Os sentidos construídos sobre o trabalho em Serviços Residenciais Terapêuticos

Abstract

Neste trabalho analisamos os sentidos que os cuidadores dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT's) da cidade de Campina Grande/PB constroem sobre o seu trabalho. Além disso, interessou-nos analisar os sentidos que os cuidadores constroem sobre a loucura; identificar as fontes de sofrimento e prazer, advindas do trabalho no Serviço Residencial Terapêutico; verificar, nesses discursos, se os cuidadores sentem-se capacitados para desenvolver as atividades atribuídas a um cuidador; e facilitar um espaço de escuta, diálogo e reflexão acerca do trabalho desenvolvido pelos cuidadores nos SRT's. O referencial teórico adotado foi a proposta de estudo das produções de sentidos a partir da análise das práticas discursivas. Utilizou-se também o referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho, no que se refere à análise das situações geradoras de sofrimento e prazer no trabalho. Considerando que se trata de uma pesquisa-intervenção, método de pesquisa que não dissocia o pesquisar do intervir, recorremos aos pressupostos teóricos e metodológicos da Psicologia Social Comunitária, em diálogo com a Educação Popular, para orientar a intervenção. Assim, foram realizadas quatro oficinas junto a um grupo formado por 07 (sete) cuidadoras dos SRT's do município de Campina Grande/PB. Guiando-nos pelos princípios da Arteterapia, utilizando exercícios e jogos do Teatro do Oprimido (TO) e diversas linguagens plásticas, as oficinas foram realizadas, objetivando constituir-se como um espaço de escuta, diálogo e reflexão e, além disso, como estratégia para obtenção de elementos para investigação. Na primeira oficina houve a apresentação da proposta de pesquisa-intervenção e levantamento dos temas a serem discutidos em oficinas posteriores. Nas oficinas seguintes foram discutidos os temas: “O que é ser cuidador”; “Loucura, trabalho e capacitação” e “Sofrimento e prazer no trabalho”. Como técnica de análise dos discursos, recorremos aos mapas de associação de ideias (SPINK; LIMA, 2004; SPINK, 2010). A partir das análises, identificamos sentidos sobre o trabalho que remetem ao risco e ao medo; à insegurança e desproteção; à necessidade de cuidados e bem-estar; à renúncia; à preocupação e responsabilidade; à sobrecarga e exploração; à incompatibilidade de funções; e ao desenvolvimento de funções que garantem os cuidados básicos dos usuários (como alimentação e higiene). As fontes de sofrimento identificadas foram: quebra de vínculos estabelecidos com os usuários; agressividade dos usuários; mobilização de sentimentos negativos a partir do comportamento dos usuários; e sentimento de impotência. Já as fontes de prazer identificadas foram: o vínculo estabelecido e o convívio com os usuários, que proporcionam momentos de descontração e afetividade. Sobre capacitação, as cuidadoras, de um modo geral, relataram não sentirem-se plenamente capacitadas para o exercício da função. No tocante aos sentidos construídos sobre a loucura, identificamos construções que remetem ao medo; à instabilidade emocional; ao desespero; à agressividade potencial e perigo; à prisão; à infantilização; à anormalidade; à “condição de especial”; ao empoderamento do louco após o processo de Reforma Psiquiátrica; à falta de noção; aos fatores psicológicos, apontados como causa que desencadeia a loucura; à doença; e à centralidade na medicação. Consideramos, então, que se faz necessário o fomento à capacitação e constante diálogo com os profissionais, bem como a avaliação permanente desse dispositivo, objetivando a consolidação e o fortalecimento da proposta de “cuidado em liberdade”, com garantia e ampliação de direitos para que a Reforma Psiquiátrica seja uma política vivida, experimentada e não, apenas, institucionalizada.