Impactos emocionais da cultura da pedofilia na vida de mulheres adultas que se autodeclararam vítimas através de trend viral no TikTok

Abstract

Através dos avanços tecnológicos é possível observar um acesso massivo à informação e a diferentes tipos de redes sociais. A democratização digital da informação traz consigo aspectos como disseminação de conceitos nunca antes mencionados e abre espaços de discussões nessas redes sociais para tópicos antes abordados apenas por pessoas específicas detentoras do conhecimento. Um dos termos que ganhou visibilidade midiática através de reportagens sobre relacionamentos afetivos entre pessoas com grande diferença de idade foi o conceito de “cultura da pedofilia”. Ao se identificarem com as características dessa cultura, celebridades e anônimos se propuseram a se posicionar sobre o assunto e se autodeclararam vítimas desse contexto em redes sociais. O objetivo deste estudo é analisar o conteúdo midiático produzido e veiculado por pessoas que se autodeclaram como vítimas da cultura da pedofilia através de uma trend viral na rede social TikTok e suas impressões a respeito dos impactos emocionais gerados por essa experiência. Foram analisados todos os vídeos publicados entre 06 de Novembro de 2022 até 17 de Maio de 2023 com os áudios das músicas "29" de Demi Lovato e "Yellow" da banda Coldplay, totalizando mais de dois mil posts, onde foram desconsiderados vídeos de perfis que não falavam sobre relacionamentos afetivos com grande diferença de idade, não revelavam a identidade da vítima e que não pertenciam a mulheres. Ao fim dessa triagem, sobraram 21 postagens onde as autoras das publicações foram contatadas através de mensagem para saber do interesse e disponibilidade de participar do estudo. Dentre as contatadas, três demonstraram interesse em participar da pesquisa e logo em seguida foi marcado com elas, de forma individual, uma reunião remota para explicação dos aspectos éticos da pesquisa e a realização da entrevista clínica proposta pelo estudo, que foram realizadas nos dias 17 e 18 de maio de 2023. Após as entrevistas foi observado que todas elas decidiram publicar o vídeo para evitar que outras mulheres passando pela mesma situação de abuso se sentissem solitárias. O estudo foi baseado em conceitos formulados e popularizados em comunidades feministas online, bem como na literatura científica e dados divulgados por profissionais da área da comunicação.