Uso dos serviços de atenção básica à saúde por portadores de doenças crônicas não transmissíveis durante a pandemia da Covid-19 no Brasil: análise baseada em sistema de informação

Abstract

Com o avanço da pandemia da COVID-19 pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), se impôs um alerta importante para os portadores de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), os quais têm apresentado maior probabilidade de desenvolver as condições que evoluem para os casos graves e de óbitos. Desse modo, destaca-se a importância de manter a continuidade do tratamento e acompanhamento dos portadores de DCNT durante o período da pandemia, principalmente na atenção básica que é a porta de acesso do sistema. Nesse contexto, o presente estudo avaliou a utilização dos serviços de saúde ofertados na atenção básica, no Brasil, pelos portadores DCNT durante o período da pandemia causada pela COVID-19, propondo ainda análises comparativas dessa assistência com os 5 anos anteriores (2015 a 2019). Foi desenvolvido um estudo transversal a partir da análise de dados secundários coletados dos relatórios de produção das equipes de saúde, disponíveis na plataforma eletrônica do Sistema de Informação em Saúde para Atenção Básica (SISAB). Para a coleta de informações foi analisado o relatório de produção das equipes de saúde para se obter dados relacionados a atendimentos individuais, procedimentos e visitas domiciliares realizadas aos portadores de DCNT durante o período da pandemia causada pela COVID-19 e nos 5 anos anteriores no Brasil, no âmbito da Atenção Básica. Identificou-se nos anos pandêmicos um aumento nos atendimentos individuais relacionados à asma, diabetes, hipertensão e obesidade, de aproximadamente 20,7%, 38,9%, 12,8% e 19,6%, respectivamente. O número de procedimentos de fundoscopia reduziu cerca de 1% em 2020-2021, em comparação à média dos cinco anos anteriores à pandemia, e ocorreu um aumento nos exames de pé diabético (12,2%) e glicemia capilar (266,2%). Apesar do estabelecimento das restrições nos anos de 2020 e 2021, as visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e demais profissionais de saúde aos portadores de DCNT aumentaram aproximadamente 26,4%. E por fim, foi verificado um aumento percentual no número de atendimentos individuais, procedimentos e visitas domiciliares realizados aos portadores de DCNT do ano de 2020 para o ano de 2021, de aproximadamente 33,5%, 92,2% e 21,9%, respectivamente. Evidenciou-se que o número de atendimentos individuais, procedimentos e visitas permaneceu crescente nos anos de pandemia (2020 e 2021), destacando-se ainda que os usuários assistidos faziam parte dos grupos de risco para a COVID-19. A análise dos presentes dados pôde possibilitar uma melhor gestão da atenção básica, permitindo uma utilização mais eficaz da informação produzida, ampliando o acompanhamento aos usuários do sistema de saúde.