Sialometaplasia necrosante: relato de caso

Abstract

A sialometaplasia necrosante (SN) é uma condição inflamatória observada em glândulas salivares. Apesar da sua natureza autolimitante, a SN apresenta características clínicas e histopatológicas que podem mimetizar neoplasias malignas. O objetivo deste estudo é relatar um caso de SN e discutir aspectos relacionados à etiopatogênese, características clinicopatológicas, diagnóstico diferencial, tratamento e prognóstico desta condição incomum. Paciente do sexo feminino, 44 anos de idade, tabagista, foi encaminhada para avaliação lesão ulcerada, dolorosa, localizada em palato. Durante a anamnese, negou eventuais comorbidades, distúrbios alimentares ou uso de medicamentos. Além disso, não associou o surgimento da lesão a trauma na região. Ao exame físico extraoral, constatou-se ausência de linfadenopatia locorregional. O exame físico intraoral revelou a presença de úlcera com aspecto crateriforme, medindo aproximadamente 1,5 cm de diâmetro, localizada na região posterior de palato duro, próximo à linha média. Sob as hipóteses diagnósticas de carcinoma de células escamosas e carcinoma mucoepidermoide, foi realizada uma biópsia incisional. A análise histopatológica revelou glândulas salivares, permeadas por infiltrado linfoplasmocitário de intensidade variável, exibindo áreas de necrose acinar, com preservação da arquitetura lobular, e metaplasia escamosa dos ductos. Adicionalmente, no epitélio de revestimento da mucosa oral, foram constatadas conspícuas áreas de hiperplasia pseudoepiteliomatosa. As áreas de metaplasia escamosa e hiperplasia pseudoepiteliomatosa revelaram aspecto citológico brando. Com base nesses achados, foi estabelecido o diagnóstico definitivo de SN. Seis semanas subsequentes à biópsia incisional, constatou-se resolução espontânea da lesão. Aos 8 meses de proservação, não foram identificados sinais clínicos de recidiva. Em conclusão, a SN é uma condição inflamatória das glândulas salivares, relativamente incomum e com etiopatogenia ainda pouco compreendida, que deve ser considerada no diagnóstico diferencial de neoplasias malignas de cavidade oral. Cirurgiões-dentistas e patologistas devem ter conhecimento dessa condição para evitar erros de diagnóstico e, consequentemente, a realização de tratamentos inadequados