Ensino de linguagens na Educação de Jovens e Adultos: das normativas oficiais ao agir docente

Abstract

A realidade escolar da Educação de Jovens e Adultos enfrenta desafios significativos para todos os sujeitos envolvidos em sua execução. Ao se debruçar sobre esse espaço educacional, a presente pesquisa investiga em que medida as aulas de linguagens e os materiais didáticos, originalmente elaborados para a realidade de crianças e adolescentes, são eficazes (ou não) para o ensino e a formação integral dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos. Para isso, definiu como objetivo geral analisar o ensino de linguagens na EJA, confrontando as reflexões teóricas e as normativas governamentais que se materializam (ou não) em ações docentes; como objetivos específicos foi proposto: i) identificar a proficiência dos materiais didáticos disponíveis para tal público; ii) analisar o plano de ensino utilizado por uma professora para a realidade da EJA; iii) identificar a realidade dos estudantes que compõem esse espaço educativo e o impacto que as práticas de letramento oferecidas pela escola ocasionam em suas vidas. A abordagem metodológica pautou-se em uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e documental por meio da análise acerca do que dizem os documentos oficiais sobre o ensino de linguagens na EJA. Em seguida, foi analisado o agir docente de uma professora colaboradora em sua prática na sala de aula, e os materiais didáticos disponíveis, além de dois alunos, participantes da pesquisa, que foram entrevistados. Para seu desenvolvimento, o estudo fundamentou-se em documentos oficiais (BRASIL, 1996; 1998; 2000; 2006; 2007; 2014; 2018) e em abordagens teóricas definidas por autores como Soares (2003), Rodrigues (2016; 2017), Rangel (2006), Marcuschi (2001), dentre outros. O estudo faz-se relevante uma vez que analisa a contribuição do ensino oferecido na efetivação ou não dos propósitos que movem os alunos a retornarem à escola na fase adulta. O trabalho permite inferir que entre teoria e prática existe um descompasso capaz de fragilizar a materialização do ensino ofertado na EJA, além da falta de formação adequada para os professores que atuam com essa modalidade e da carência de materiais didáticos pensados para tal público. Ao identificar as lacunas que permeiam tal realidade, o estudo propõe uma reflexão acerca de um modelo educativo pautado em práticas de letramento socioculturais e históricas que atribuam sentidos ao ensino-aprendizagem da linguagem na EJA e, sobretudo, que se aproximem da realidade do estudante. Um olhar afetuoso que se efetiva mediante um processo de letramento que humaniza o ensino a partir do aperfeiçoamento do outro para instancias sociais que consideram o texto uma prática social de linguagem, e o ensino-aprendizagem uma ação social revestida de sensibilidade.