A construção da personagem feminina em O Quinze, de Rachel de Queiroz

Abstract

A personagem feminina na literatura regionalista da década de 1930 geralmente aparece subordinada a papéis secundários, marcada pela passividade e pela idealização. Nesse contexto, a presente pesquisa investiga como a protagonista Conceição, do romance O Quinze (1930), de Rachel de Queiroz, rompe com esse modelo tradicional, construindo uma trajetória de resistência diante das adversidades históricas, sociais e culturais causadas pela seca de 1915 no Nordeste brasileiro. O objetivo principal foi analisar a construção dessa personagem como símbolo de superação e emancipação. Para isso, buscou-se identificar os desafios enfrentados por Conceição, compreender os fatores internos e externos que sustentam sua força e examinar como suas atitudes representam um novo lugar para a mulher na literatura da época. A pesquisa, de natureza bibliográfica, qualitativa e analítica, fundamenta-se em autores como Candido (2000), Moisés (2019), Zolin (2009), Hollanda (2023), Bueno (2006), Butler (2018) e Woolf (2014). Os resultados indicam que Conceição rompe com os padrões esperados de sua época ao rejeitar o casamento como imposição social, afirmar sua autonomia intelectual e afetiva e ocupar espaços de decisão, cuidado e ação. Sua construção literária traduz uma ruptura ética e estética na narrativa regionalista e contribui para a ampliação das vozes femininas na literatura brasileira. Assim, Rachel de Queiroz inaugura uma nova representação da mulher no romance nordestino, unindo crítica social, profundidade psicológica e força simbólica.