dc.description.abstract |
Este trabalho tem como objeto de estudo a significação da dor de amar em letras da
Música Popular Brasileira (MPB) produzidas entre os anos de 1850 e de 1950. Nosso
corpus constitui-se de trinta composições: quinze de autoria feminina e quinze de
autoria masculina. Diante de tais composições, intentamos responder como o exercício
da dor de amar encontra-se nelas configurado. Se sofrer de amor é algo que une homens
e mulheres quando “o negócio é amar”, então, será que, ao sofrerem de amor, homem e
mulheres sofrem com a mesma dor? Diante de tal pergunta, nosso objetivo principal foi,
verificar os matizes desse sofrer consubstancializados no discurso da MPB a partir das
composições de Cândido das Neves (1899-1934), Mario Lago (1911-2002), Leonel
Azevedo (1908-1980), J. Cascata (1912-1961), Chiquinha Gonzaga (1847-1935),
Dolores Duran (1930-1959) e Maysa (1936-1977). Para a análise de tal corpus, valemonos do aporte da Psicanálise, notadamente dos estudos de desenvolvidos por Nasio
(2007) e Caruso (1989) acerca da dor e do amor, além dos trabalhos de Ghiraldelli
(2011), Faour (2006), Rougemont (2003) e Costa (1999) que se detiveram a pensar a
configuração do amor no imaginário ocidental. No enfrentamento do nosso corpus,
pudemos constatar que os discursos feminino e masculino convergem em torno do
sofrer de amor, porém os matizes desse sofrer são distintos: nas composições de autoria
masculina, a mulher aparece como principal causadora da dor de amar, porém descrita
como fingida, falsa, interesseira. Nas composições de autoria feminina, os matizes do
sofrer amoroso giram em torno da ausência do ser amado; lembranças do passado;
insatisfação conjugal, etc. Mas em todos eles parecem ser costurados pelo mesmo fio:
quem ama sofre e esse sofrer se faz necessário no nosso processo de educação
sentimental. |
pt_BR |