Os discursos médicos e a história da loucura na Cidade da Parahyba do Norte/João Pessoa (1927-1959)

Abstract

A primeira metade do século XX foi marcada por crescentes investimentos das autoridades públicas em setores da saúde, justificados pela busca em promover um desenvolvimento “sadio” da urbe, através da higienização material e ideológica da sociedade. Diante da prerrogativa de um pretenso progresso, a questão da assistência aos alienados passou a figurar como objeto de preocupação entre a comunidade médica local. Se outrora, os loucos eram tutelados pela Santa Casa de Misericórdia, depositados no asilo de Sant’Anna ou viviam em situação de mendicância nas ruas, a entrada da psiquiatria como aparato para tratar a loucura provocou mudanças significativas na forma com que os doentes mentais passaram a ser vistos. A Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba (SMCPB), órgão responsável por presidir os principais veículos de divulgação médico-cientifica da capital do Estado, contribuiu significativamente para a difusão dos estudos de especialidade psiquiátrica, e consequentemente, para o fortalecimento dos discursos empreendidos pelos esculápios. Compreendendo essas dinâmicas, este trabalho objetiva-se a analisar os enunciados médicos sobre a loucura presentes nos anais da Semana Médica da Paraíba, realizada em 1927, e nas edições da revista Medicina, identificando como foram pensadas as práticas de assistência e medicalização a loucura. Para tanto, além das referidas fontes, foram averiguados jornais e revistas que circulavam no período, e os relatórios dos Presidentes de Estado, buscando compreender as relações que se estabeleceram entre as forças políticas e médicas. Como fundamentação teórica, nos valemos de diálogos tecidos com a História Cultural, a partir de autores como Foucault, Goffman, Machado, para pensarmos a concepção de loucura através do tempo e as relações impressas dentro da instituição manicomial. A partir das questões empreendidas nesta pesquisa, pode ser acompanhado como se deu o fortalecimento da psiquiatria e o desenvolvimento das terapias ministradas nos loucos, que corroboraram para o silenciamento destes.