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No presente trabalho busco refletir e problematizar sobre a relação historicamente constituída entre as mulheres e o amor romântico. Mais especificamente, observo os sentidos construídos para tal relação por meio da imprensa do início do século XX. No caso, em questão, debruço-me sobre uma seção da Revista da Semana (RJ) intitulada Cartas de Mulher, publicada com regularidade entre os anos de 1914 a 1919, e assinada com o pseudônimo de Iracema, por um dos editores do impresso, Carlos Malheiro Dias. Em um período em que o amor romântico sinalizava sua crise frente aos apelos da vida moderna e dos deslocamentos de gênero. Analiso, a partir daí a presença dos discursos e dispositivos que o atualizavam, dentro do modelo da família burguesa e urbana, atravessada pelos ideais higienistas que então perfilavam os ideais de civilização da República brasileira. Para tanto, enveredo por uma abordagem cultural que pretende um diálogo entre o campo da História das Mulheres e de gênero, bem como da história do amor. Compreendendo, neste percurso, que os trajetos firmados para a idealização do amor romântico implicaram, sobremodo, as mulheres, em um ideal de romance desejado e colocado como central em suas vidas, em que a imprensa, assim como a literatura, trata de reificar. Este ideal, dentro de uma sociedade onde dominava a moral cristã, se por um lado fez o amor deixar de ser um privilégio ou algo secundário na realização do matrimônio, atualizou os sentidos do casamento monogâmico, heterossexual e indissolúvel, que deveria ser almejado pelas mulheres, como lócus de sua realização, a partir do qual poderia dedicar-se ao lar e a outro idealizado amor, o da maternidade. |
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