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No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizou o surto de COVID-19 como uma pandemia. As medidas restritivas decretadas com o intuito de conter e gerenciar a pandemia acentuaram o risco de violência contra as mulheres, criando uma "pandemia sombra dentro da pandemia", como foi denominada pelas Nações Unidas. A violência doméstica pode ser perpetrada, incluindo violência física, psicológica, sexual, econômica e stalking. A violência física se caracteriza como o tipo de violência mais comum contra a mulher no Brasil. Aregião de cabeça e pescoço é a mais acometida nesse tipo de violência, estando frequentemente relacionada à ocorrência de traumas bucomaxilofaciais. Nesse contexto, o objetivo
desse estudo é avaliar a incidência dos traumas maxilofaciais expressos como consequência da violência física empreendida contra a mulher durante o período da pandemia do Covid-19, em um Centro de Referência no atendimento à vítima de trauma, na cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba. Foram incluídos no estudo o total de 246 prontuários médicos de mulheres que compareceram ao Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena durante o período da pandemia do Covid-19 – de janeiro de 2020 a dezembro de 2021 - com traumas na região maxilofacial resultantes de violência. Foram analisados um total de 112 prontuários do ano de 2020 e 134 prontuários de 2021. Em relação a distribuição dos dados no
período de 2020 e 2021, identificou-se que a maioria das notificações do ano de 2020 foi no mês de janeiro (n=18; 16,1%), enquanto que para 2021 foi no mês de janeiro, agosto e outubro (n=14; 10,4%). No tocante a faixa etária, a maioria foi de 20 a 29 anos em 2020 (n=35; 31,3%) e em 2021 (n=44; 32,9%). O local de residência que mais predominou foi João Pessoa tanto em 2020 (n=69; 61,6%), quanto em 2021
(n=83; 62,0%). Quanto aos dados clínicos dos traumas da violência, a maioria das pacientes no ano de 2020 apresentou o tipo de trauma de tecido mole (n=83; 74,1%), na região nasal (n=32; 28,6%), lado frontal (n=55; 49,1%). Em relação aos dados de 2021, o predomínio se deu entre aquelas que o trauma foi de tecido mole (n=88; 65,7%), em mais de uma região da face (n=32; 23,9%), no lado frontal (n=59; 44,0%). A violência contra a mulher é um problema gravíssimo de saúde pública que se intensificou no período da pandemia do Covid-19. Os resultados do presente estudo evidenciam um padrão dos tipos de lesão maxilofacial decorrentes da violência contra a mulher, e que esse tipo de estudo pode auxiliar os profissionais da Odontologia a
identificar esse padrão de trauma e detectar possíveis vítimas de violência contra a mulher. |
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