Perfil das lesões maxilofaciais em mulheres vítimas de violência sob a perspectiva da Odontologia Legal na cidade de João Pessoa, Paraíba

Abstract

A violência contra as mulheres, um problema alarmante na sociedade contemporânea, assume múltiplas formas, desde o abuso psicológico e ameaças, até agressões físicas e feminicídio, frequentemente acompanhada de traumas dentais e maxilofaciais. Objetivou-se com esse estudo descrever o perfil da violência doméstica e comunitária contra a mulher e determinar o padrão dos traumas oro-maxilo-faciais segundo uma perspectiva odontolegal. Foi realizado um estudo observacional, de caráter exploratório, com dados secundários provenientes do Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (NUMOL) da região metropolitana de João Pessoa. Foram adotados como critérios de inclusão todos os registros das vítimas que sofreram agressão física e foram submetidas a exame de corpo de delito, registrados entre Janeiro e Dezembro de 2019. Como critérios de exclusão foram excluídos os registros que estavam indisponíveis no momento da coleta por questões judiciais. Para a coleta de dados, foi elaborado um formulário específico que continha variáveis relacionadas às características sociais e demográficas das vítimas, características da violência interpessoal, características da ocorrência e dos traumas sofridos pelas vítimas. A análise estatística descritiva foi realizada para caracterizar a amostra e descrever as principais variáveis do estudo. Para a estatística inferencial, realizou-se uma regressão logística, considerando a característica da variável dependente (dicotômica). As variáveis independentes foram incluídas no modelo em blocos e foi adotado o método backward: wald, adotando o p < 0,200 como critério para o modelo ajustado. O teste de Hosmer-Lemershow foi utilizado para avaliar a qualidade do modelo. As análises foram realizadas no software SPSS versão 22.0. A maioria das vítimas tinha entre 30 e 59 anos (45,4%), com companheiro (52,7%), escolaridade maior que 11 anos (8,2%) e assalariada (42,0%). O agressor em sua maioria era do sexo masculino (69,6%), sendo geralmente o companheiro da vítima (35,6%). Prevaleceram situações de agressões nuas (91,5%), sendo registradas principalmente aos domingos (21,0%), no turno da noite (31,4%) e na residência da vítima (36,6%). Traumas em mais de uma região do corpo constituíram o padrão mais frequente (55,45). Traumas isolados na região da face em sua maioria acometeram a área orbital (17,5%). Foi possível traçar um perfil da violência intrafamiliar e comunitária contra a mulher, levando em consideração as características sociodemográficas das vítimas e dos agressores e verificou-se uma associação significativa entre mulheres violentadas por agressão nua e uma maior chance de trauma facial.