Resumo:
Ao longo da história, o conhecimento em torno do corpo e da saúde das mulheres tem gerado diversas dúvidas e incertezas, como resultado de estigmas ligados ao seu sistema reprodutor. O útero foi por muito tempo visto como o grande causador de doenças nas mulheres, desde cólicas a dores de cabeça e reumáticas, uma vez que esteve associado ao sistema nervoso central feminino, comprometendo assim o equilíbrio do corpo das mulheres e sendo porta de entrada para as enfermidades. Neste sentido, os medicamentos surgem como forma de evitar que as doenças provocadas pelo útero doente possam prejudicar a vitalidade das mulheres, de forma a fortalecer e proporcionar vigor e disposição. A partir do final do século XIX e início do século XX, período marcado pelo Movimento Sanitarista que implantou novos modelos de higiene, os anúncios de medicamentos indicados para o tratamento de “doenças de senhoras” ganharam projeção significativa nas revistas e jornais de grande circulação nos principais centros urbanos. Grande parte desses anúncios estavam apoiados na falas dos médicos, no qual defendiam que o útero era a fonte da saúde das mulheres e que, uma vez que ele fosse acometido por alguma enfermidade, estaria comprometendo o funcionamento do corpo feminino. O contato com o Jornal das Moças, periódico desenvolvido inteiramente para as mulheres da elite carioca, possibilitou-nos observar os anúncios de alguns desses medicamentos, bem como entender a maneira que a classe médica lidava com os incômodos femininos, voltando-se para os discursos de fragilidade e da moral. Ou seja, observamos como os anúncios se relacionam com as leitoras do jornal, buscando manter com elas uma relação de afinidade comparada a de uma amizade próxima, e também buscamos investigar a presença das propagandas dos remédios voltados para tratar os males femininos provocados pelo útero, quais as suas indicações e como se apresentam dentro do periódico. Nesse sentido, esta pesquisa tem, como recorte temporal as décadas compreendidas entre 1914-1940, período em que os anúncios de medicamentos se tornaram marcantes nos jornais e revistas que circulavam no país, com destaque na presente pesquisa para o Jornal das Moças. O referencial teórico está voltado para Sant’Anna, De Luca, Bertucci, Araújo, Vieira, Del Priore, Le Goff, Foucault e Martins.
Descrição:
DUARTE, Maria Clara Firmino. "Torna são o útero doente": os anúncios de remédios para as "doenças de senhoras" no Jornal das Moças no início do século XX. 2024. 37f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) - Universidade Estadual da Paraíba, Guarabira, 2024.