Rezadeiras: importância do ofício e sua prática na atualidade

Abstract

Este artigo apresenta as atividades de reza, conhecimento praticado principalmente por mulheres que desenvolveram orações e medicamentos à base de plantas medicinais e que por muito tempo foram as únicas alternativas terapêutica nas comunidades e povoados desprovidos dos saberes médicos. Analisando a prática de cura realizada pela rezadeira Maria de Lourdes, residente em Solânea-PB, cuja atuação permanece relevante tanto em contextos rurais quanto urbanos. Tais práticas, frequentemente marginalizadas por serem classificadas como “populares”, enfrentam historicamente o estigma de ausência de fundamento científico e legitimidade religiosa, estigma esse construído pela Igreja Católica e reforçado, na contemporaneidade, por segmentos do protestantismo. A manutenção destas práticas pela rezadeira demonstra a força de sua resistência. A pesquisa fundamenta-se nos estudos sobre a história das religiões, com base em autores como Mott (1997), Hermann (1997) e Silva (2018), e utiliza a metodologia da história oral (ALBERTI, 2005) juntamente com a entrevista concedida pela rezadeira Maria de Lourdes para apresentarmos as orações, instrumentos, diagnósticos e enfermidades tratadas por essa mulher. O objetivo deste estudo foi analisar as práticas culturais das rezadeiras, sua permanência e adaptações à modernidade, analisando como a memória e oralidade atuam para manutenção e propagação dessa prática. Essas personagens são agentes de resistência cultural e espiritual, que, por meio da fé e da caridade, oferecem cuidado às pessoas que as procuram. Os relatos de Maria de Lourdes revelam elementos de sincretismo religioso, expressando formas particulares de vivência e prática religiosa no Brasil. Ao registrar essas experiências, busca-se contribuir para a preservação e valorização de saberes tradicionais, que vem desaparecendo diante do desinteresse das futuras gerações em dar continuidade ao ofício. Muitas vezes invisibilizados, esses saberes são, no entanto, essenciais à compreensão da diversidade religiosa e cultural brasileira.