Representações sociais elaboradas por psicólogos da rede pública de ensino sobre a queixa escolar

Abstract

As queixas escolares se referem às dificuldades no processo de escolarização e se constituem, no cenário brasileiro, no principal motivo de encaminhamentos de crianças e adolescentes aos serviços de psicologia. No atendimento a essa demanda, a postura do psicólogo é respaldada por sua perspectiva acerca dessa problemática, que pode ser tradicional, na qual se culpabiliza apenas o aluno e/ou suas famílias, ou crítica, em que são considerados os aspectos psicossociais e relacionais envolvidos. Considerando esses pressupostos, propôs-se, neste trabalho, a apreender as Representações Sociais (significados, crenças, concepções, condutas) sobre a queixa escolar elaboradas por psicólogos de escolas públicas municipais de Campina Grande-PB. Trata-se de um estudo de campo, de natureza qualitativa e exploratória, do qual participaram seis psicólogos escolhidos conforme critérios de conveniência e acessibilidade. Os instrumentos utilizados foram: questionário sociodemográfico, cujos dados foram tabulados no Microsoft Office Excel 2013 e analisados mediante estatística descritiva; e entrevista semiestruturada, em que as respostas foram transcritas e submetidas aos procedimentos da Técnica de Análise Temática de Conteúdo e analisadas conforme pressupostos da Teoria das Representações sociais e da literatura científica sobre a temática. A partir da análise dos resultados encontrados, verificou-se que as representações sociais dos participantes sobre a queixa escolar são ancoradas em concepções tradicionais, biomédicas e individualizantes, voltadas para a culpabilização de questões individuais da criança (biológicas, comportamentais e psicológicas), de suas famílias e/ou das condições de vidas adversas do seu meio social. Ademais, percebeu-se que essas representações são objetivadas na visão do ainda considerado aluno-problema, caracterizado como limitado por conta de seu insucesso escolar. Foi possível constatar, a partir das representações sociais evidenciadas, que as práticas e estratégias utilizadas pelos profissionais para lidar com o fenômeno também são predominantemente tradicionais, ancoradas no modelo clínico de atuação, com foco no atendimento individual do aluno, na orientação de professores e/ou familiares e no encaminhamento do educando. Por fim, considera-se que as discussões provenientes deste trabalho podem contribuir para despertar reflexões nos graduandos em Psicologia, bem como instigar posturas mais críticas dos profissionais que atuam nesse contexto. Além disso, espera- se que esta pesquisa tenha contribuído, de alguma forma, para otimizar o processo educativo na escola, visto que os participantes, ao expor suas opiniões e atitudes, puderam refletir e repensar seu papel diante dessa problemática.