Discurso e ensino de língua materna: uma proposta didática com o gênero charge

Abstract

O presente trabalho contempla a charge, gênero de grande aceitação social, visando a possibilidade de sua inserção como ferramenta pedagógica nas aulas de Língua Materna, especificamente, no que diz respeito ao contexto de ensino-aprendizagem da leitura no ensino médio. Partimos do pressuposto de que a atividade de leitura não deve ser meramente um treino de decodificação, mas sim uma das maneiras de integração do aluno com o meio social, que ocorre através da sua participação linguística.Neste sentido, levamos em consideração a perspectiva da leitura discursiva, na qual o leitor, afetado sócio-histórico-ideologicamente, produz sentidos para o que lê, ao estabelecer uma relação interativa com o conteúdo textual e o autor do texto, que escreve intencionalmente. Sendo assim, levantamos a seguinte questão-problema: Como uma abordagem do gênero charge pode contribuir para o ensino-aprendizagem das leituras discursivas no ensino médio? Diante dessa problemática, o objetivo geral deste trabalho é propor a análise do uso da linguagem verbal e não verbal na charge sob uma perspectiva discursiva, considerando sua relevância como ferramenta pedagógica para o desenvolvimento da ampliação da competência leitora. Apontamos como justificativa deste trabalho a necessidade de refletir sobre as práticas de ensino da leitura na sala de aula, de forma que não incorram em uma mera simulação da atividade de ler, nas quais, geralmente, são realizados exercícios superficiais de interpretação, que não priorizam a leitura efetiva do texto e sua contextualização. Para tanto, apresentamos uma proposta de sequência didática (tendo como referência as contribuições teóricas advindas de Schneauwly, Dolz e Noverraz (2004)) que comporta o uso do gênero charge e recorremos à Análise do Discurso de linha francesa (Pêcheux, 2011, 1990, 1988), que prioriza o contexto histórico-social dos discursos produzidos pelo sujeito para que os sentidos sejam construídos. Além disso, recorremos aos referenciais teóricos de Fernandes (2008), Orlandi (2008, 2007), Voese (2004), dentre outros.