Estudo etnobiológico na Comunidade Caracolzinho, Gado Bravo - PB

Abstract

Os estudos etnobiológicos abordam a percepção ambiental, buscando identificar as interações das pessoas com os recursos ambientais, tais como plantas e animais, através do conhecimento que as pessoas adquiriram ao longo do tempo sobre esses recursos. Esse conhecimento é de suma importância nas culturas tradicionais das sociedades rurais e indígenas em todo o mundo. Em razão da pouca disponibilidade de recursos financeiros para o deslocamento até a cidade mais próxima, elevado custo de consultas médicas e a compra de medicamentos em farmácias convencionais. O estudo pretende conhecer as memórias e os saberes tradicionais sobre plantas e animais da comunidade Caracolzinho no munícipio de Gado Bravo-PB. A metodologia empregada foi fundamentada na pesquisa quali-quantitativa, na qual se dedica mais aos aspectos qualitativos, porém, sem desprezar os quantitativos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os moradores locais. A comunidade Caracolzinho, apresenta uma grande área rural, além de uma pequena porção pavimentada, situada na região central da localidade. 18 pessoas foram entrevistadas. O sexo feminino apresentou uma maior predominância com 83% (n=15). A faixa etária situou-se nos intervalos entre 65-70 e 75-80 anos de idade 22,30% (n=04). O grau de escolaridade mostrou que cerca de 55,6% (n=10) das pessoas eram analfabetas e 38,8% (n=07) possuíam o ensino fundamental incompleto. A média salarial foi de 02 salários mínimos. Foram citadas 30 espécies distribuídas em 30 gêneros e 20 famílias. As espécies mais citadas entre os entrevistados foram a Lippia alba (Mill.) N. E. Br. 17,53% (n=17), conhecida popularmente como “Erva-Cidreira” da família Verbenaceae, seguida da Cymbopogon citratus 13,40% (n=13), vulgarmente chamada de “Capim-santo” pertencente à família Poaceae. As folhas 80,22% (n=77) foram a principal parte das plantas utilizadas no preparo dos remédios, seguido das cascas 13,54% (n=13). A planta tóxica mais citada foi a Dieffenbachia picta Schott. (Comigo-ninguém-pode), pertencente à família Araceae que apresenta distribuição cosmopolita. Os saberes sobre a utilização de animais ou insetos para fazer remédio, apenas 22,22% (n=04) afirmaram que sim, enquanto 77,78% (n=14) disseram que não conheciam. O número de citações para animais foram para Crotalus durissus (Linnaeus, 1758) (Cascavel) e o Iguana iguana (Camelão) (n=2) para o tratamento de osteopatias, e os inseto foi a Atta sp. (Tanajura) (n=2) para o tratamento de inflamações na garganta. Quanto aos saberes sobre as parteiras pela comunidade, constatou-se que a maioria das mulheres questionadas que possuíam filhos, conheciam os trabalhos das parteiras, e tiveram todos ou os primeiros filhos com o auxílio da mesma. O povo local da comunidade ainda nos dias de hoje, recorrem às benzedeiras para o tratamento de algumas enfermidades. As pessoas do local demonstraram amplo conhecimento sobre plantas medicinais, cultivadas em seus quintais, sendo a maior parte desses saberes encontrados no gênero feminino, com renda mensal média de dois salários mínimos e com pouco grau de escolaridade. Os conhecimentos adquiridos ao longo da vida, possibilitaram que as pessoas driblassem as dificuldades com os serviços de saúde, aplicando os seus saberes com tratamentos eficazes na localidade.