Reação de células gigantes multinucleadas em carcinomas de células escamosas de língua oral: estudo clinicopatológico e imunoistoquímico

Abstract

A reação de células gigantes multinucleadas (CGM) tem sido relatada em carcinomas de células escamosas (CCE) que acometem diversas localizações anatômicas. No CCE de língua oral (CCELO), a natureza dessa reação e sua relação com o comportamento clínico e o prognóstico dessa neoplasia maligna não estão totalmente compreendidas. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a frequência e a distribuição da reação de CGMs no CCELO e verificar a associação desse achado microscópico com parâmetros clinicopatológicos (sexo, idade, tamanho/ extensão do tumor, metástase linfonodal regional e à distância, estágio clínico e grau histopatológico de malignidade). Foi realizado um estudo observacional, analítico e com corte transversal, cuja amostra foi composta por 61 casos de CCELO obtidos do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Napoleão Laureano/ João Pessoa – PB. Os dados clínicos foram coletados por meio de prontuários médicos. Sob microscopia de luz, dois avaliadores previamente treinados examinaram cortes histológicos corados em hematoxilina e eosina para identificar a presença e distribuição da reação de CGMs em campos de grande aumento (high power fields - HPF). Com base na mediana de HPFs apresentando a reação de CGMs, os casos foram classificados como: distribuição focal (≤ 5 HPF) ou distribuição difusa (> 5 HPF). No estudo imunoistoquímico, o anticorpo anti-CD68 foi utilizado a fim de confirmar a natureza monocítica/ macrofágica das CGMs. Os testes do Qui-quadrado e exato de Fisher foram utilizados com o objetivo de analisar as possíveis associações entre a presença e a distribuição da reação de CGMs e os parâmetros clinicopatológicos. O nível de significância estabelecido foi de 5% (p < 0,05). Vinte e um (34,4%) casos de CCELO apresentaram a reação de CGMs, com maior frequência do padrão de distribuição focal (n = 12; 57,1%). A frequência da reação de CGMs foi 2,75 vezes maior nas neoplasias sem metástase nodal regional do que nas neoplasias com metástases linfonodais (p = 0,027; RP: 2,75; 95% IC: 1,05-7,20). A ocorrência desse achado microscópico foi 3,37 e 3,36 vezes maior, respectivamente, nos CCELOs que se apresentavam em estágios clínicos iniciais (p = 0,006; RP: 3,37; 95% IC: 1,28-8,85) e bem diferenciados (p = 0,001; RP: 3,36; 95% IC: 1,51-7,48), quando comparados aos casos que se apresentavam em estágios clínicos avançados e moderadamente/pobremente diferenciados. A presença da reação de CGMs não revelou associação estatisticamente significativa com o tamanho do tumor (p = 0,152), a metástase à distância (p = 0,654), o sexo (p = 0,547) e a idade dos pacientes (p = 0,202). Além disso, não foi constatada associação estatisticamente significativa entre a distribuição da reação de CGMs e os parâmetros clinicopatológicos analisados (p > 0,05). Em conclusão, os resultados do presente estudo sugerem que a ausência da reação de CGMs pode constituir um indicador de comportamento biológico mais agressivo nos CCELOs. Além disso, a associação desse achado microscópico com o grau histopatológico de malignidade dos CCELOs sugere que o mesmo pode representar uma resposta do tipo corpo estranho à ceratina nessas neoplasias malignas.