A vida imitando a arte: um diálogo entre as obras "Quarto de despejo" e "O Cortiço"

Abstract

O propósito desse artigo é discutir as possíveis relações existentes entre as obras, Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, e O Cortiço, de Aluisio Azevedo. Procuramos as semelhanças entre essas duas obras, visto que, hipoteticamente seria possível que a autora da narrativa, Quarto de Despejo, tenha de certa maneira, folheado a obra naturalista de Aluisio Azevedo, pois no seu diário ela relata que tinha muitos livros e que seu maior prazer, em meio a tanta diversidade era a leitura. Isso é possível observarmos quando lemos o seu romance, pois, imageticamente nos remetemos ao universo ficcional retratado pelo autor de “O Cortiço”. Partimos do princípio de que na obra “Quarto de Despejo” é evidente um retrato de uma realidade, vista e narrada de forma simples, nas páginas de um diário. Por outro lado, nos transportamo-nos a outra época totalmente distante daquela retratada, encontrada no universo ficcional dentro do romance de Azevedo. Isso nos inquieta e nos leva a investigar, nos transportando entre esses dois universos, e mostrando que esses romances se aproximam e dialogam em suas descrições de fatos e personagens. A análise será feita através da observação dos momentos narrados e na descrição feita pelos autores, elencando tais vertentes aos conceitos de teóricos que verbalizam sobre o ato de análise entre obras afins. Podemos ver que as duas obras se fundem também pela sua textualidade e fontes históricas, como também pela sua minuciosidade narrada, tanto do universo real às margens do rio Tietê, encontrado no romance Quarto de Despejo, deslocando-se ao ficcional dentro da sociedade marginalizada carioca em meados do século XIX, visto no panorama de “O Cortiço” com suas formações urbanas desordenadas da época. Percebemos que, tais obras analisadas trazem uma realidade social, vista a olhos artísticos e ampliados, em relatos de quem observou e testemunhou os acontecimentos, a outro que observou e estudou uma classe marginalizada, colocando em ênfase seus maiores defeitos e patologias. Essas visões acerca dos dois universos explicitados permitem que novas leituras sejam possíveis de se fazer, ampliando, assim, os estudos de outros pesquisadores que podem vir a desvendar outras singularidades, tanto nos acontecimentos narrados nos ambientes relatados, quanto na figura de alguns personagens que compõem os dois romances.