A persistência dos mitos nas relações entre ciência e religião: o caso da condenação de Galileu Galilei

Abstract

Concepções errôneas acerca de alguns episódios históricos se mantém ao longo do tempo constituindo-se como verdadeiros mitos presentes em livros didáticos, artigos acadêmicos e materiais de divulgação. Neste trabalho, realizou-se uma investigação destinada à exposição das ideias e percepções mais comuns em torno do vínculo estabelecido entre ciência e religião, particularizado no episódio do julgamento de Galileu Galilei, em conjunto com suas representações e fabulações encontradas na literatura. A partir da revisão de literatura, realizamos uma análise de conteúdo nos diferentes textos que tratam do episódio histórico da condenação de Galileu, que resultou na criação de algumas categorias. Aplicamos essas categorias no texto de divulgação científica Galileu, uma adaptação da A vida de Galileu de Bertolt Brecht. As categorias permitiram a análise do texto quanto ao conteúdo, subdividida em três tipos de visões mais comuns encontradas na literatura: visão simplista, visão de autoridade e visão conceitual; e quanto à forma, subdividida em ativa e passiva. Após análise dos dados obtidos a partir do esquadrinhamento do texto, foi observada a presença de todas as categorias, sendo possível detectar a predominância daquelas que apontam uma visão simplista e de autoridade, com forma ativa em sua apresentação. Por ser uma abordagem que consideramos inadequada para a construção de um senso crítico sobre a relação ciência-religião, acreditamos que seria necessária a predominância da visão contextual por permitir a incorporação de elementos e evidências históricas devidamente ponderadas pela comunidade científica.