Entre silenciamento e culpabilização: discursos sobre o estupro em notícias jornalísticas divulgadas na internet

Abstract

Na sociedade brasileira a divulgação de notícias relacionadas com a violência sexual é cada vez mais recorrente, pois o crime de estupro tem se tornado um grande problema no país, como apontam os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2019) que ocorre uma média de 180 casos por dia. Assim, como o crime acomete principalmente as mulheres, isso tudo envolve as construções sociais que foram formadas ao longo do tempo, gerando desigualdades entre os gêneros. Pensando nisso, a presente pesquisa surge a partir desse contexto e pelo interesse nos estudos da Análise do Discurso de linha Francesa. Nesta pesquisa, buscamos responder à seguinte pergunta: Que discursos e interdiscursos podem ser percebidos na construção de notícias divulgadas na internet, sobre o crime de estupro no Brasil, com grande repercussão nacional? Assim como, responder ao objetivo geral de identificar os discursos produzidos sobre o crime de estupro a partir de posicionamentos assumidos por sujeitos influentes, recuperados em notícias publicadas pelos sites G1, O Globo e Uol acerca de um caso de estupro que ocorreu na cidade de São Mateus- ES, no ano de 2020, com uma menina de 10 anos. Como objetivos específicos, este trabalho se propõe a refletir sobre os efeitos de sentidos que esses textos apresentam e observar as relações interdiscursivas que estão presentes nessas matérias. Em virtude disso, construímos o corpus para a análise a partir de um conjunto de 06 notícias dos sites UOL, O Globo e G1 a respeito desse caso de estupro. Para fins de análise, utilizamos na metodologia desta pesquisa o método qualitativo. Segundo Minayo e Deslandes (2007, p.21) esse tipo de pesquisa “se ocupa nas Ciências Sociais, assim trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. ” Nesse processo, buscamos apoio em conceitos da Análise do Discurso como as ideologias, as condições de produção, os efeitos de sentidos, o interdiscurso, as relações dos ditos e não-ditos, assim como estudos que versem sobre a violência contra a mulher, o sistema patriarcal, o contexto familiar no império brasileiro e na sociedade atual, entre outros pontos. E como embasamento teórico utilizamos autores como Orlandi (2007), Maingueneau (2015), Bakhtin (2006) e Del Priore (2011). A partir do que foi observado na análise, identificamos nas notícias discursos que naturalizam o crime de estupro, culpam a vítima e deixam o algoz isento até mesmo dos julgamentos sociais. Com isso, compreendemos que as notícias constroem os discursos sobre o crime de estupro baseadas nas ideologias religiosas, patriarcais e machistas.