"Tudo o que sinto esbarra em Deus": as interfaces do sagrado na poética de Adélia Prado

Abstract

O artigo tem por intuito apresentar um estudo bibliográfico da poética de Adélia Prado sob a ótica do Sagrado nas interfaces do cotidiano e da vida simbólica, da figura feminina e seus papéis sociais ao longo da história, bem como do paralelo traçado entre erotismo e corpo, permeados pela religiosidade em suas raízes litúrgicas, prosaicas e escatológicas. Para tanto, o objeto de estudo das análises que aqui serão apresentadas concentram-se no livro Poesia reunida, publicado em 2015 pela autora. A poesia de Adélia Prado é inundada por nuances que remetem ao sagrado em diversas ramificações. Sua escrita, portanto, transita entre as instâncias do transcender e do imanar, visando ao religamento do vínculo humano com a mística do sobrenatural. O presente trabalho torna-se relevante em razão do caráter dialógico e pluridiscursivo do texto literário, cuja linguagem é de natureza polifônica. O traço peculiar da autora nos leva a compreender as realidades humanas sob a ótica divina. A obra adeliana traz consigo também uma característica forte do Modernismo: a retomada do cotidiano, da linguagem oral, da cultura e da ascensão da linguagem poética com o fito de obter respostas para os entraves da existência. A experiência literária nas perspectivas religiosa e poética, em suas diversas interfaces, se reveste de finalidade própria: o retorno do vínculo de sentido à vida do homem, expressa, em suma, através desta linguagem poética e lírica. O embasamento teórico para contextualizar as discussões deste artigo é constituído a partir de Eliade (2008), Ferraz (2008), Magalhães (2000), Suttana (2002), Moreira (2000), Olivieri (1994), Paz (1982) e Cardeal (2015).