Ingestão de microplásticos por Anchoa januaria (steindachner, 1879) no estuário do Rio Paraíba do Norte

Abstract

O estudo da ingestão de microplásticos pelos peixes ajuda a compreender os seus possíveis riscos em habitats estuarinos para esses animais. O presente trabalho tem como objetivo verificar se a ingestão de microplástico na espécie pelágica Anchoa januaria apresenta variações espaciais e de acordo com as fases ontogenéticas. O estudo foi realizado no estuário tropical do Rio Paraíba, Paraíba, Nordeste do Brasil, em um mês do período chuvoso (julho) e um mês do período seco (novembro) de 2019, durante a maré de sizígia e no período diurno. O estuário foi dividido em zona superior, intermediária e inferior de acordo com o gradiente de salinidade. Em cada zona foram escolhidos cinco pontos aleatoriamente, realizados com uma rede picaré. Para as fases ontogenéticas e classes de tamanhos, foram divididos em juvenis do ano (40mm) e juvenis (>40mm) de acordo com seu comprimento total (CT). Para a análise dos itens alimentares e microplásticos foi feita uma incisão ventral nos indivíduos, a partir da qual foi retirado e aberto o estômago, a fim de identificar e quantificar os itens alimentares e os microplásticos de acordo com tipo (fragmento ou filamento) e cor. Um total de 206 indivíduos foram capturados, sendo 38 na zona superior, 130 na zona intermediária e 37 na zona inferior. Com relação a classificação de tamanho, 39 indivíduos foram considerados juvenis do ano, e 110 foram considerados juvenis. Os resultados mostraram que em todas as zonas predominou a abundância de indivíduos >40mm (juvenis), e as diferenças dos tamanhos de A. januaria entre as zonas do estuário foram significativas. Foram registradas 83 partículas de microplásticos no conteúdo estomacal de 50 exemplares de peixes. A abundância de microplásticos no conteúdo estomacal dos peixes diferiu em relação a cada zona. Assim, foram registrados 39 fragmentos sendo a maioria verde e 34 filamentos sendo a maioria azuis. Para análise do conteúdo estomacal os microplásticos ocorreram em 40% e 6,66% das amostras das classes de tamanhos ≤40 e >40mm na zona inferior, respectivamente. Para a análise da composição de presas, observou-se que 29 itens foram identificados na dieta de A. januaria. Para os resultados de fator de condição observou-se que os grupos que ingeriram microplásticos tiveram fator de condição maior do que os que não ingeriram na zona intermediária, mas os resultados não foram significativos. Baseado em nossos resultados, foi visto que os peixes apresentam um método de captura por ataque rápido e não seletivo podendo assim consumir microplásticos acidentalmente, sendo muito confundidos com suas presas planctônicas naturais por apresentar cor, tamanho e forma semelhantes. Com isso, o estudo da ingestão de microplásticos pela espécie A. januaria pode contribuir com estudos de avaliações de impactos ambientais, conservação em ambientes estuarinos, planos de manejo, possíveis impactos da ingestão de microplásticos à vida humana através da alimentação desses peixes e ter importância social na produtividade pesqueira envolvendo principalmente a pesca artesanal e comercial para a população vizinha.