Plantando alternativas a partir do Sul: um estudo ecofeminista decolonial sobre as narrativas de mulheres indígenas e quilombolas da Ilha de Marajó e Paraíba, no contexto de crise ambiental global

Abstract

O pensamento racionalista colonial-moderno-eurocentrado é responsável por sistematizar os elementos estruturais da crise ambiental, promovendo o epistemicídio e a colonialidade da natureza. Nesse contexto, os ecofeminismos do Sul são movimentos que ampliam a visão para imaginar outras alternativas diante da crise ambiental global. O objetivo geral deste estudo é romper com a episteme do conhecimento eurocêntrico-colonial presente na área de Relações Internacionais, buscando referências locais para pensar o global. O trabalho adota uma abordagem metodológica etnobiográfica, incluindo entrevistas/conversas não estruturadas, observação participante e pesquisa bibliográfica. Com base numa perspectiva ecofeminista decolonial, as narrativas, conhecimentos e reflexões de mulheres indígenas e quilombolas da Ilha de Marajó (PA) e Paraíba foram articuladas para se contraporem ao pensamento colonial dominante sobre a natureza e refletir a respeito de novas formas de organização, cuidado com a terra e bem viver. Dessa forma, busca-se, também preencher a lacuna existente na produção acadêmica da área de Relações Internacionais em relação às perspectivas dos ecofeminismos do Sul para refletir sobre a crise ambiental global. Para isso, o estudo avança na construção de um conhecimento científico decolonial, encarnado e blasfêmico, sustentado na práxis utópica dos feminismos (Messeder, 2020). A pesquisa argumenta que os feminismos construídos a partir do Sul, a partir de corpos localizados em contato com a terra, suas comunidades e ancestralidade, desenvolvem teorias por meio de uma práxis cotidiana e que, apesar de suas pluralidades, convergem. Nesse sentido, esses movimentos têm demonstrado como os seres humanos podem repensar sua relação com a Terra, com os outros e consigo mesmos. Portanto, este estudo busca plantar alternativas, nutrir esperanças e imaginar futuros possíveis, no contexto de crise ambiental global.