Vigilância microbiológica: rastreamento de bactérias multirresistentes em neonatos colonizados em uma maternidade pública em Campina Grande-PB

Abstract

As culturas de vigilância são estratégias eficientes de prevenção e controle na disseminação de microrganismos multirresistentes (MMR) em um ambiente hospitalar, viabilizando a detecção precoce de patógenos emergentes para o manejo correto dos pacientes colonizados, como o seu isolamento dos demais pacientes, além de alertar para a percepção das tendências de resistência das bactérias que circulam naquele ambiente frente aos antimicrobianos. O objetivo deste estudo foi colaborar com a minimização de casos de infecções nosocomiais causadas MMR com base em testagem laboratorial de amostras de vigilância epidemiológica obtidas de neonatos internados na UTI Neonatal de uma maternidade pública em Campina Grande –PB. No período de julho a outubro de 2023, swabs nasais, axilares e anais de 28 neonatos internados na UTI Neonatal, foram submetidos à cultura bacteriana no laboratório de microbiologia da Universidade Estadual da Paraíba, perfazendo um total de 84 amostras analisadas. O material coletado foi processado em meios de culturas adequados, incubado e analisado após o crescimento bacteriano. Foram realizadas pesquisas de enzimas de resistência, utilizando métodos fenotípicos de detecção. Dos neonatos estudados, 68% eram do gênero feminino. A faixa etária majoritária compreendeu entre 8 e 13 dias de vida, perfazendo 35,71% do total. O sítio nasal registrou o maior número de isolamentos bacterianos, com 37%. Foram isoladas 131 bactérias. Entres os isolados, Staphylococcus coagulase negativa predominou com cerca de 39,69%. Dentre essas, 71% foram cepas resistentes à oxacilina. Observou se que, dos 100% dos Staphylococcus coagulase positiva isolados, 91,67% foram identificados como MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina/oxacilina). Dentre as bactérias Gram-negativas, Enterobacter agglomerans 12,21% e Enterobacter aerogenes 9,16% foram as bactérias predominantes. Identificou-se que 60% das bactérias Gram-negativas eram produtoras de enzimas de resistência a antimicrobianos como ESBL, seguida das carbapenemases, que representaram 38%. Houve apenas uma ocorrência de AmpC, sendo a região nasal a área com maior incidência dessas enzimas. Constatou-se um elevado perfil de resistência aos antibióticos testados, com destaque para as cefalosporinas de 1ª geração (90,97%) e de 3ª geração (73,91%). Os aminoglicosídeos apresentaram uma resistência elevada de 82,71% para as demais bactérias que não Pseudomonas (55,55%) e Escherichia coli (33,33%) enquanto os carbapenêmicos demonstraram um índice de resistência de 32,66%. Conclui-se que, no hospital estudado, o antibiótico testado que apresentou menor perfil de resistência foi o ciprofloxacino (51,68%) além dos carbapenêmicos (32,66%) que devem ser a última opção terapêutica, em função da possibilidade de desenvolvimento de resistência. O trabalho alerta para a necessidade de cuidados de precauções de contato para com os neonatos da UTI do hospital estudado, evitando a disseminação de MMR no ambiente, além de demonstrar a importância de acompanhar eventuais modificações na epidemiologia hospitalar para adequação de antibioticoterapia através da realização frequente de culturas com antibiograma.