A resistência à presença das mulheres na Ciência e Tecnologia: uma análise psicopolítica

Abstract

As representações dos lugares sociais são reflexos de construções políticas e sociais que se solidificaram ao longo dos séculos. Nesse sentido, o campo da Ciência e Tecnologia (C&T) ficou culturalmente demarcada como um espaço masculino, o que tem gerado a limitada participação feminina no setor mediante situações de preconceito, violência e adoecimento. Esse cenário vem se modificando devido ao entendimento político e social que culminam em ações coletivas em prol de mudanças, igualdade de oportunidades e respeito por parte dessas mulheres. À vista disso, esse trabalho propõe-se a analisar, sob à luz da Psicologia Política, um acontecimento de repercussão na cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba, que reverberou machismo e misoginia para com as mulheres atuantes na C&T. O objetivo é analisar como se deu a organização de uma ação coletiva de um grupo de mulheres estudantes da C&T frente ao acontecimento, dando enfoque aos elementos contextuais da ação, aos processos psicossociais e afetivos implicados na constituição de uma identidade coletiva e as diferentes formas de participação política. Para isso, foi realizada um estudo documental qualitativo e de caráter exploratório. O material utilizado foram duas publicações em redes sociais, duas cartas de repúdio, uma emitida por um grupo discente e outra nos canais da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, duas notícias veiculadas em portais jornalísticos sobre o acontecimento e a nota emitida pela reitoria da universidade. Esses materiais foram analisados por meio da análise de conteúdo temática de Bardin. A partir de tal análise, observou-se que o comentário misógino foi propiciado por um contexto político e social conservador que fortaleceu as discussões sobre gênero e que levou a organização de uma ação coletiva democrática e não convencional através do desenvolvimento de uma identidade política que foi fortalecida por sentimentos de injustiça e indignação, reverberando uma modalidade de ação coletiva que se deu pela internet, veículo que impulsionou a ação para além dos muros da universidade, chegando à população que cobrou uma atitude institucional.