Duas obras, duas vertentes do insólito ficcional: A metamorfose e Memórias póstumas de Brás Cubas

Abstract

A presente pesquisa, de base bibliográfica e qualitativa, tem como objetivo geral analisar, num plano de cunho comparativo, duas obras de ficção narrativas qualificadas como representantes do insólito ficcional, denominação literária que corresponde a uma categoria de vários subgêneros. Em caráter mais específico, revisitamos características do Realismo Mágico e do Realismo Fantástico em A metamorfose (1915), de Franz Kafka, e Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis. Compete-nos, num primeiro momento, observar o contexto extraliterário que dá forma ao real mágico/fantástico como escritura e como experiência existencial humana em A metamorfose, considerando as características apresentadas pelo romance nesse sentido. Num segundo momento, procederemos da mesma forma à análise de Memórias póstumas de Brás Cubas, visando ao estabelecimento de um liame entre essas duas obras, não somente como peças de linguagem, mas como evocativas da experiência humana, unidas pela constatação inicial do elemento insólito por elas compartilhado. Interessa-nos, sobretudo, tomar como eixo da investigação a autorreflexão de caráter existencial que os dois protagonistas, Gregor Samsa e Brás Cubas, fazem a respeito de si mesmos e de suas vidas, incidindo diretamente sobre a construção de uma autoimagem negativa, cada um a seu modo.