O uso de sal na triagem laboratorial de microplásticos em sedimentos pode representar um viés metodológico?

Abstract

Os microplásticos são partículas inferiores a 5,0 mm derivados da degradação de polímeros e suas ocorrência e abundância têm sido avaliadas em diversos ambientes e compartimentos, como sedimento, coluna d’água e organismos. Um método comumente empregado para avaliação e quantificação destas partículas em sedimentos consiste na utilização de uma solução de sal marinho (NaCl) para sua decantação. Entretanto, devido à elevada incidência de plásticos nos mares, este sal apresenta alta concentração de microplásticos e deve ser filtrado para não interferir na avaliação realizada. Desta maneira, este estudo preocupou-se em comparar os resultados da triagem de sedimentos em laboratório antes e após a filtragem do NaCl utilizado. Sedimento proveniente do ambiente estuarino, cujo sal utilizado na triagem de laboratório não foi filtrado, foi comparado ao sedimento coletado em reservatórios do semiárido, o qual passou pelo processo de filtragem antes do uso do sal para decantação. Utilizando o teste de MannWhitney, buscou-se determinar a importância da filtragem do sal na decantação dos sedimentos provenientes de ambos os locais. A diferença entre as medianas dos dois grupos testados foi altamente significativa (W = 6621; p = 3,048e-15), apontando incidência de microplásticos significativamente menor na amostra cujo sal foi filtrado. Este trabalho conclui que é necessária a filtragem do NaCl usado na decantação do sedimento para evitar a contaminação prévia das amostras utilizadas na avaliação da qualidade do ambiente natural. Esta abordagem estimulou a criação de um protocolo de triagem de microplásticos em laboratório para, assim, reduzir erros metodológicos no processamento de amostras e proporcionar uma compreensão mais fiel e precisa da qualidade do ambiente quanto à incidência de impacto antrópico dos microplásticos no sedimento, independente do ambiente estudado.