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O Espelho, obra de Marguerite Porete aqui tratada, pode, em verdade, ser interpretado como uma espécie de guia espiritual, na medida em que a autora tem, como um dos seus principais objetivos, a pretensão de ensinar aos seus ouvintes qual é o caminho que deve ser seguido por aqueles que desejam obter a total libertação dos empecilhos na busca da aniquilação da alma porquanto esta promete tornar possível um fidedigno encontro com o Amado. Em O Espelho, Marguerite, em sua atuação mística, apresenta o seu conhecimento – obtido pela infinita generosidade de Amor – através de uma estrutura dialógica, onde ela, Alma, A Dama Amor (Deus) e a Razão (Igreja) aparecem como os personagens principais na reflexão do que concerne à compreensão do Amor operante na Alma nadificada. Não obstante, em toda a sua obra Porete reitera a necessidade da Alma de desprender-se de toda vontade, não mais havendo sequer a prática das virtudes tampouco a ida a templos sagrados a fim de encontrar-se com a Divindade. Ou seja, o que, para muitos, sobretudo nos dias atuais, é visto como intermédio para se aproximar de Deus, em Porete toda e qualquer atitude virtuosa e prática religiosa é apresentada como empecilho para tanto. O caminho para encontrar-se com o Amado, segundo Marguerite, é não buscar um dado caminho, na medida em que o lugar onde esse encontro se dará é exatamente no momento em que não houver mais uma busca por um determinado lugar. Isso porque o caminho é o aniquilamento e o lugar é em todos os lugares. Destarte, o ponto central desta pesquisa é discutir sob quais alicerces se fundamenta o discurso de uma Alma que a todo instante afirma repousar na liberdade do nada querer, nada ter, nada ser, e paradoxalmente permanece somente na vontade e no desejo do amor. Com base na teoria poretiana de que através da abdicação das vontades e do aniquilamento total da Alma é possível vivenciar uma experiência direta com Deus, nos dedicaremos a analisar de que maneira uma Alma que repousa no nada é capaz de alcançar tamanha honra, sobretudo em entender como o nada permite a permanência do desejo, ainda que este o seja pelo Amor. |
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