Trabalho em rede, saúde mental e reforma psiquiátrica: Um estudo com técnicos do CAPS III

Abstract

É a partir da articulação entre os serviços de atenção básica e os de saúde mental que a atual política de saúde mental no Brasil, conformada aos pressupostos da reforma psiquiátrica, recomenda a progressiva substituição dos hospitais psiquiátricos, o que demanda um trabalho em rede. Este estudo tem por objetivo analisar as concepções de técnicos de um Centro de Atenção Psicossocial CAPS-III acerca do trabalho em rede, saúde mental, adoecimento psíquico/loucura e reforma psiquiátrica. Trata-se de um estudo de campo, de caráter descritivo e exploratório que será desenvolvido através de um enfoque qualitativo. A pesquisa foi realizada no CAPS III, localizado na cidade de Campina Grande-PB. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: a) Questionário sóciodemográfico e de perfil profissional: com questões versando sobre idade, sexo, área de formação, nível de formação, se atua em outros serviços, tempo de atuação na área de saúde mental e na instituição; b) Entrevista semiestruturada com questões norteadoras sobre os objetivos deste estudo. A partir da análise das entrevistas, emergiram quatro categorias temáticas: 1) Concepção sobre o trabalho em rede; 2) Concepções sobre saúde mental; 3) Concepções sobre o adoecimento Psíquico/loucura; 4) Concepções sobre reforma psiquiátrica. Dentre outros resultados, os participantes ressaltam os aspectos positivos e as limitações da operacionalização do trabalho em rede envolvendo o CAPS III e a atenção básica. A saúde mental foi definida de forma ampla e englobou questões subjetivas, biológicas, culturais e sociais da vida do sujeito. Conclui-se que a percepção dos participantes é perpassada tanto por crenças que estão em consonância com as diretrizes da reforma psiquiátrica quanto por crenças negativas acerca das pessoas em sofrimento psíquico, o que dificulta a humanização do tratamento em saúde mental. Destacam-se ainda as limitações estruturais dos serviços, que se apresentam como entraves no processo de operacionalização do trabalho em rede.