Resumo:
O estudo da ecomorfologia ajuda a compreender como as mudanças morfológicas que ocorrem durante os estágios ontogenéticos tem influência na utilização de diferentes recursos dos habitats estuarinos. O presente trabalho tem como objetivo verificar se há correlação das mudanças na morfologia de Atherinella brasiliensis (Atherinopsidae) durante o seu desenvolvimento ontogenético entre diferentes habitats estuarinos, tendo como hipótese que habitats com maior complexidade estrutural possuem populações com distintas características morfométricas em relação aos habitats e a dieta, em virtude da necessidade da captura de alimento e melhor natação. O estudo foi realizado no estuário tropical do Rio Mamanguape, Paraíba, Nordeste do Brasil, em seis coletas, durante os períodos da chuva e da seca. Foram selecionados quatro habitats, Banco de Fanerógamas e Vegetação Marginal (ambientes vegetados), Planície de Maré e Praia (ambientes não vegetados), para cada habitat estabelecidas três réplicas e para cada réplica três arrastos, realizados através de uma rede de picaré (ou beach seine). Para a morfometria foram selecionadas e mensuradas dezesseis características morfométricas, e posteriormente transformadas em onze índices ecomorfométricos. Com base no comprimento total (CT) os indivíduos foram classificados nas classes de tamanho, Juvenis e Adultos. Para verificar a correlação dos índices ecomorfométricos com a dieta, foram estabelecidos quatro grupos alimentares principais: Zooplâncton, Material Vegetal, Insetos, e Crustáceos Bênticos e Epibênticos. Um total de 425 indivíduos foi analisado, sendo 263 juvenis e 232 adultos. Os resultados mostraram que A. brasiliensis apresentou plasticidade fenotípica, ou seja, as variações nos índices ecomorfométricos da espécie foram associados com a adaptação as condições de cada habitat. A análise discriminante evidenciou nos juvenis que os índices relativos à altura do corpo, tamanho da cabeça e ao pedúnculo estavam associados aos ambientes vegetados (Banco de Fanerógamas e Vegetação Marginal), e os índices relativos à altura do corpo e ao tamanho do olho forma associados aos ambientes não vegetados (Praia). Já nos adultos, os índices relacionados à altura, pedúnculo, cabeça e boca estavam associados a ambientes vegetados e não vegetados (Banco de Fanerógamas, Vegetação Marginal, Planície de Maré e Praia). Esse trabalho aponta que as variações morfológicas encontradas são consideradas como uma resposta ao tipo de habitat. Baseado em nossos resultados, os indivíduos dos diferentes habitats poderiam estar apresentando tais modelos no formato do corpo em relação às diferenças ambientais. Com isso, estudos relacionados com a ecomorfologia podem auxiliar no entendimento do uso dos habitats pelos peixes e a espécie A. brasiliensis pode contribuir em avaliações de impacto ambiental, ações de planos de manejo e conservação em ambientes estuarinos.
Descrição:
MACIEL, E. B. O padrão do uso de habitats vegetados e não vegetados por peixes pode estar associado à ecomorfologia? Um estudo de caso com Atherinella brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1825) em um estuário tropical, Brasil. 2018. 42f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas)- Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2018.