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Ao pensarmos a música popular brasileira é pouco provável não remetermos às nossas heranças culturais, sobretudo a africana, cuja influência da oralidade, de suas danças e batuques, deu origem a tantos gêneros musicais em nosso país, especialmente o samba e os jongos. Contudo, a música negra significa para além dos aspectos sonoros que a compõem, é a representação das resistências, lutas, ressignificações culturais, lazeres e diversões de uma população que foi submetida a tantas desigualdades sociais e austeridades contra suas expressões e subjetividades, e que encontraram em manifestações como a música um meio de perpetuar sua cultura, visão de mundo e o elo com seus antepassados. São estes e tantos outros elementos, que fazem a música afro-brasileira um campo tão diverso e significativo no qual temos como uma das maiores representantes dessa cultura, identidade e ancestralidade, Clementina de Jesus. Uma mulher negra de origem banto e descendente de ex-escravos, moradora de morro, empregada doméstica durante boa parte de sua vida, iniciou sua carreira artística aos 63 anos de idade, em 1964, cujo cenário musical era ocupado majoritariamente por homens jovens e brancos, enquanto a mesma era negra e idosa; e um contexto político marcado pelos movimentos negros sociais que lutavam contra as perdas democráticas e o autoritarismo da ditadura militar. Nesta perspectiva, o objetivo do nosso trabalho é discutir algumas de suas músicas no sentido de analisar como Clementina historicamente constrói uma identidade e ancestralidade afro-brasileira influenciada, sobretudo, pela sua infância na cidade de Valença, pelas rodas de samba que freqüentava a partir da década de 20, e sua religiosidade que envolvia elementos do catolicismo e do candomblé. |
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