Efeitos do treinamento através de softwares de reabilitação cognitiva em pacientes com traumatismo cranioencefálico

Abstract

O Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é causado por forças externas que alteram a anatomia e/ou funcionamento dos constituintes cranianos. Pelo perfil dos acometidos e pelo número de sequelas é um importante problema de saúde pública, principalmente, nos países em desenvolvimento. No campo da reabilitação cognitiva, a Realidade Virtual (RV) vem sendo estudada com foco na memória, atenção, funções executivas, independência funcional e percepção espacial. As principais vantagens de sua inserção em programas terapêuticos são o bom custo-efetividade, a dinamicidade e efetividade. Objetivo Avaliar os efeitos de um protocolo de Realidade Virtual não imersiva em aspectos cognitivos - aprendizagem, memória de trabalho e atenção - e na independência funcional de indivíduos pós-TCE (pTCE) moderado ou grave, em estágio crônico do trauma. Metodologia Trata-se de uma série de três casos, do tipo antes e depois. Foram incluídos indivíduos que, independente do gênero, tivessem idade entre 18-60 anos; diagnóstico de traumatismo cranioencefálico moderado ou grave, em estágio crônico do trauma; pontuação ≥ 26 no Mini Exame de Estado Mental (MEEM) e que aceitaram participar do estudo através da assinatura do TCLE. Foram excluídos aqueles que não compreendiam ou eram incapazes de realizar as atividades propostas; apresentavam desordens psicóticas, histórico recente de alcoolismo, uso de drogas, outras desordens neurológicas ou com quadro comportamental descompensado. Os participantes foram avaliados antes e imediatamente depois do final do treinamento através do Questionário Sociodemográfico e Neurológico; MEEM; Subtestes de Dígitos, Letras e Números, Aritmética e Códigos da WAIS IV; Stroop Color and Word Test; Trail Making Test e o Questionário de Atividades Funcionais Pfeffer. O protocolo de intervenção consistia em 12 sessões, de, aproximadamente, 30 minutos em frequência de 3x/semana; foram utilizados os softwares Tempo de Reação, Timing Reflex, Labirinto e Genius. Os dados coletados foram expressos em média, desvio padrão; frequência absoluta e relativa. Resultados A amostra foi composta por 2 homens e 1 mulher, com idade média de 30 ± 4,58 anos. Todos tiveram TCE causados por acidentes de trânsito. Os pacientes auto-relataram comprometimentos psicocognitivos e motricidade. Após intervenção, os achados neuropsicológicos foram sugestivos de efeitos positivos no status cognitivo global e tendência à melhora nos componentes de atenção, na capacidade de inibição de interferências cognitivas, na velocidade de processamento e na memória de trabalho. Considerando a pontuação da Pfeffer a intervenção parece ter tido efeito positivo sobre a funcionalidade. Não existiram relatos de desconforto durante as intervenções; e, considerando a presença nas sessões, há indicativo de boa adesão ao tratamento. Considerações Finais Os achados apontaram para ganhos cognitivos e funcionais, além de que, a Realidade Virtual pareceu ser ser uma modalidade terapêutica dinâmica que facilitou o entrosamento do participante com a intervenção e a adesão ao tratamento. Limitações amostrais e no desenho do estudo não permitiram generalizações populacionais ou correlações entre variáveis. Neste contexto, mais estudos com desenho metodológico que aumente a confiabilidade interna, são necessários para que o papel da Realidade Virtual na reabilitação cognitiva desta população seja estabelecido.