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O trabalho não é responsável apenas pelo sustento do homem, como também por sua
transformação enquanto sujeito e ator sob/na atividade laboral. O desenvolvimento da
sociedade é perpassado por esta relação, pois o trabalho permite acesso do homem a
sociedade, que se constitui e é transformada pelo trabalho. É no sentido da transformação que
o trabalho exerce sobre o homem que vem se observando um relativo aumento dos índices de
doenças ocupacionais e transtornos mentais. Na região Nordeste do Brasil, tem se observando
um relativo aumento no setor de Telemarketing nos últimos 10 anos, com a Cidade de
Campina Grande na Paraíba sediando duas grandes empresas do setor. Partindo disso, o
presente estudo teve como objetivo compreender como as relações de trabalho interferem no
processo saúde-doença dos trabalhadores do Telemarketing no Município de Campina
Grande. A pesquisa foi de caráter transversal, qualitativa, na qual participaram oito
trabalhadores que exercem atividades em empresas de telemarketing de Campina Grande,
escolhidos através da abordagem não probabilística bola de neve, em que os participantes
indicavam um ou mais colegas para colaborar com a pesquisa respondendo a dois
questionários e uma entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados a partir da análise
temática, a partir da abordagem da análise de conteúdo. Os resultados apontam que as
relações de trabalho favorecem tanto o desgaste mental, refletindo em sofrimento psíquico,
quanto a promoção de saúde, mediante as estratégias de defesa construídas coletivamente e a
cooperação entre os trabalhadores. Através das categorias de “organização de trabalho”,
“relação com os superiores”, “relação com os supervisores” e “relação com os clientes”
obteve-se que a organização é caracterizada por metas, cobranças, pressão e responsabilidades
excessivas, baseadas em uma gestão com práticas de assédio, refletindo nas relações de
trabalho com superiores, supervisores e clientes. As estratégias desenvolvidas pelos
operadores com pares, superiores e supervisores revelam que o vínculo propicia o
desenvolvimento da cooperação, com a partilha de conhecimentos e a opção de não se falar
sobre o trabalho fora dele, além da dinâmica do reconhecimento pelos clientes. Entretanto
essas estratégias tem demonstrado serem insuficientes para manutenção da saúde mental, pois
percebe-se a instalação de um processo de adoecimento, com dados apontando para o
sofrimento psíquico dos trabalhadores. Concluindo, destaca-se a necessidade de incentivar as
gestões mais humanitárias, que se preocupam não apenas com a produção, mas com a
promoção de saúde possível através das relações de trabalho. |
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