Incidência de animais sinantrópicos nocivos em associação de catadores de materiais recicláveis

Abstract

Os catadores de materiais recicláveis estão inseridos em um cotidiano de trabalho, comumente considerado insalubre. Isto se deve não somente a seleção dos resíduos sólidos, como também a exposição ao chorume, gás metano, materiais pontiagudos ou no caso abordado neste trabalho, a agentes biológicos que podem variar de vetores de doenças a portadores de peçonha. Isto posto, o corrente trabalho ambiciona analisar a relação da fauna sinatrópica nociva com riscos à saúde dos trabalhadores da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida (ARENSA) considerando a vulnerabilidade, devido às condições sociais e intrínsecas do ofício. Para tanto se procedeu um estudo de natureza aplicada, caracterizado por uma metodologia de abordagem mista, quali-quantitativa, com objetivo descritivo. Este trabalho se encontra- distribuído em três etapas de desenvolvimento que abrangem: a aplicação de questionários sócio-demográficos que acrescem questões acerca do ambiente e condições de trabalho entre os associados, seguido de coletas de espécimes sinantrópicas in situ no período que compreende agosto de 2019 a fevereiro de 2020, estabelecendo como prioridades, ambientes com potencial desenvolvimento e proliferação da fauna sinantrópica nóxica, e por fim, foi realizado a identificação dos espécimes com auxílio de chaves taxonômicas, e o processamento dos dados relacionados aos agravos foram postos de forma comparativa quanto aos demais acidentes comuns ao trabalho. O público entrevistado caracterizou-se como uma população vulnerável, compelidas ao ofício de catadores de materiais recicláveis como alternativa de subsistência, além disso, segundo os relatos, pode-se constatar que ocorre uma alta exposição dessa população aos mais variados agravos, no que se refere aos biológicos pudemos fazer levantamentos de relatos de envenenamento por escorpionismo em uma parcela considerável de acidentes em 21% (3) dos colaboradores. A incidência sinantrópica comprovada por meio de coleta se concentraram em 7 (sete) famílias: Salticidae, Uloboridae, Pholcidae, Theridiidae, Muscidae, Calliphoridae e Blatidae. Destaca-se a presença e sucesso ecológico de algumas espécies sinantrópicas de risco sanitário, em particular as famílias Muscidae, Calliphoridae e Blattidae, responsáveis pela disseminação de uma ampla gama de patógenos relacionados a adoecimentos relatados no cotidiano dos colaboradores, como Salmonelose, diarreia, disenteria e cólera. Como fatores que influenciam este cenário ressaltamos a ausência de dedetizações e medidas de controle da fauna sinantrópica ao longo da história da associação, potencializados pela falta de seleção dos resíduos sólidos por parte da fonte geradora, atividades imperativas para garantir o direito à saúde desses cidadãos, bem como seu direito a um ambiente de trabalho salubre. Essas são competências do Estado através do SUS e vigilância sanitária. Por fim, depreende-se a relação entre o ambiente de trabalho dos catadores de material recicláveis e adoecimentos em decorrência de envenenamentos e infecções provocados por animais sinantrópicos nocivos.