Resumo:
Analisar o fenômeno de dependência química na adolescência é destrinchar uma série de aspectos de natureza biológica, psicológica, social, familiar e cultural que circundam a existência deste perfil populacional. Para além da dimensão biológica, o contexto social, particularmente as relações estabelecidas no seio familiar, constitui-se como um dos principais preditores para a vulnerabilidade ao consumo de drogas lícitas e ilícitas. Partindo dessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo analisar a relação existente entre o grau do suporte familiar e a prevenção, desencadeamento, agravamento ou redução do quadro de dependência química no público adolescente. Em relação à metodologia, foi utilizada abordagem quanti-qualitativa de natureza descritiva e exploratória com uma amostra de seis adolescentes adictos atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD III) na cidade de Campina Grande, no Estado da Paraíba, no período de fevereiro e março de 2021. Os instrumentos manuseados foram as escalas denominadas de Escala de Emoções Vivenciadas em Ambiente Familiar (BEAF) e Apgar de Família. Outrossim, foi aplicado um questionário sociodemográfico e entrevista semiestruturada, com finalidade de analisar as variáveis familiares responsáveis pelo desencadeamento, agravamento ou redução do quadro de drogadição na adolescência. Para a análise dos dados de natureza quantitativa, utilizou-se o Software Estatístico Livre R. Sobre a interpretação das informações obtidas pela entrevista semiestruturada, foi aplicada a análise do discurso do sujeito coletivo de Levefre e embasamento teórico da Logoterapia e Análise Existencial. Concluiu-se que a ausência do suporte familiar colabora para o desencadeamento e agravamento da dependência química na adolescência, cujas variáveis identificadas foram a falta de apoio psicossocial no tratamento, separações parentais mal resolvidas, comportamento disciplinar e abusivo dos pais, dificuldades de manutenção de diálogo e expressão de pensamentos e sentimentos, falta de acompanhamento e monitoramento sobre os ciclos de amizade e relacionamentos interpessoais, desconhecimento acerca das demandas individuais, histórico de atos criminais e uso recorrente e abusivo de substâncias psicoativas entre os familiares. Esta última variável aumentou significativamente a vulnerabilidade para o uso precoce de drogas pelo público adolescente. Em relação ao grau de funcionalidade do cenário familiar para o desenvolvimento dos adolescentes baseado na escala Apgar de Família, foi observado que 50% dos pesquisados coabitam em ambiente altamente disfuncional, 16,6% em contexto familiar com moderada disfunção e 33,4% vivem em família altamente funcional. A percepção do adolescente em relação ao ambiente familiar foi associada às emoções negativas tais como ansiedade, pressão emocional, tristeza, chateação, confusão, raiva e desamparo. Ademais, ficou evidente a necessidade da inclusão da família como um dos eixos centrais para a adoção de medidas de promoção, prevenção e reabilitação psicossocial dos adolescentes em contexto de drogadição.
Descrição:
LIRA, Angélica Vanessa de Andrade Araujo. Histórias de riscos e iniciação: analisando a relação entre o suporte familiar e a drogadição na adolescência. 2021. 103 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2021.