Variações nas condições fisiológicas de Atherinella brasiliensis em dois biótopos em um estuário tropical

Abstract

Sistemas estuarinos são ecossistemas costeiros caracterizados por altas taxas de produtividade biológica e grande complexidade estrutural, devido a sua heterogeneidade de habitats, tornando esses ecossistemas importantes ambientes para o processo de recrutamento de diferentes espécies de organismos. Populações de peixes utilizam esses diferentes habitats como áreas para alimentação, crescimento e reprodução, e assim a qualidade como a quantidade desses ambientes, atuam de forma direta nas relações tróficas e também no bem-estar fisiológico das espécies. O presente trabalho foi desenvolvido no intuito de avaliar o efeito de dois biótopos estuarinos sobre as condições fisiológicas do peixe-rei A. brasiliensis, uma espécie de ampla distribuição na costa brasileira. Para isso foram coletados exemplares do peixe-rei em dois biótopos de um estuário tropical (bancos de fanerógamas marinhas e planícies de maré lamosa) utilizando uma rede de arrasto. Posteriormente todos os indivíduos coletados foram armazenados em gelo e trazidos para o laboratório, onde os indivíduos foram pesados e medidos. Para avaliar o bem-estar dos peixes na utilização dos biótopos foi calculado o índice Hepatossomático (HSI) e identificar diferenças na concentração do material genético foi realizado a quantificação do conteúdo de DNA genômico. Para essas análises foram utilizados o peso do fígado e porções de músculo dorsal dos peixes, respectivamente. Um total de 132 indivíduos foi capturado (103 na Planície de Maré e 29 no Banco de Fanerógamas), sendo estes representados em sua maioria por indivíduos juvenis. Os maiores conteúdos de DNA foram registrados para as amostras dos indivíduos do banco das fanerógamas e do HSI nos indivíduos da Planície de Maré, sendo que tais diferenças não foram significativas. Entretanto, quando analisados por tamanho, somente HSI apresentou diferenças significativas, os maiores valores sendo registrados para os juvenis. A Análise de Componentes explicou 82,2% da variabilidade dos dados, com o PC1 relacionado com os diferentes tamanhos e o PC2 explicando a separação das amostras codificadas por biótopo. Os nossos resultados apontaram para uma redução dos valores do HSI e do conteúdo total de DNA genômico para A. brasiliensis conforme a espécie atinge seu estágio reprodutivo. Também observamos uma separação espacial entre juvenis e adultos nos biótopos, essa separação seria em consequência a disponibilidade de recursos de cada biótopo, onde os adultos tendem a buscar ambientes mais complexos, como o banco de fanerógamas e os juvenis se agruparam em maior abundância nas planícies de maré devido a maior disponib ilidade de recursos alimentares, devido as altas taxas de produtividade secundaria desse biótopo. Os resultados desse trabalho com respeito ao uso de habitat por uma população de peixe estuarino contribuem com importantes informações que poderão ser usadas para estratégias de manejo e conservação desse ecossistema.