A mulher negra na literatura brasileira do início do século XX: leitura de Clara dos Anjos, de Lima Barreto

Abstract

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o romance Clara dos Anjos (1948), do escritor Lima Barreto, procurando identificar o papel da mulher representado na obra. Partimos do estudo analítico dos principais personagens da narrativa, sobretudo os que fazem parte do núcleo familiar da protagonista, evidenciando seus aspectos culturais, históricos e sociais, no intuito de perceber a condição da mulher no início do século XX, período em que Lima Barreto publicou sua obra. Embora existam muitos estudos acerca desse romance, notadamente no que se refere ao tema investigado nesta análise literária, ressaltamos que a condição da mulher, especialmente a mulher negra e pobre, ainda merece discussão diante do fato dessa mulher ainda continuar socialmente desvalorizada. Ou seja, a sociedade em geral ainda coloca a mulher numa situação subalterna, discriminando-a pela cor da pele e impondo uma condição inferior. Nesta perspectiva, vale a pena reler Clara dos anjos e refletir sobre sua representação, relacionando-a ao papel da mulher de hoje, um século depois da publicação do romance de Lima Barreto. Desse modo, consideramos a Literatura Brasileira como um importante instrumento de denúncia, uma vez que o autor aponta a desigualdade social e o racismo presente na narrativa vivenciados por Clara, mulher negra e pobre do subúrbio do Rio de Janeiro no início do século XX, pondo em destaque, consequentemente, a opressão das classes sociais, sobretudo as minorias periféricas dos grandes centros urbanos, realidade muito presente nos dias atuais. Trata-se de um estudo de caráter bibliográfico que toma como referencial teórico autores que versam sobre a análise da narrativa, a exemplo de Gancho (2004) e Candido (2010), além de estudos que discutem e analisam o romance em questão, como é o caso de Mansano (2020) e Vasconcellos (1992). A análise demonstra que, apesar da luta do movimento feminino, o racismo e a pobreza se constituem como elementos de resistência a serem enfrentados pela mulher negra e, por extensão, por toda sociedade brasileira.