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Com certa intimidade, Lacan se remete ao Zen-budismo na abertura do seu primeiro seminário, Os escritos técnicos de Freud e a partir daí, segue com essas alusões ao longo do seu ensino. Este trabalho buscou investigar o que Lacan desenvolveu como aporte clínico-teórico para a transmissão da Psicanálise lacaniana ao assinalar o sistema de pensamento do Zen e, para tanto, partiu do Zen para melhor compreender do que tratava Lacan. Na Psicanálise lacaniana, atentou-se para a trajetória que vai do inconsciente simbólico, na primeira clínica, ao inconsciente real, na segunda, cuja orientação parte do sentido ao sem-sentido. Com a releitura de Freud, Lacan propôs a necessidade de resgatar o valor da práxis analítica se empenhando em reintroduzir o sentido à palavra do analisante, referido por Freud. Lacan reportou-se ao Zen na experiência analítica da sua primeira clínica, numa busca pelo sentido pleno, onde o que fosse do plano das imagens, das identificações, deveria ser abolido. Pelo sentido, o analista deveria reparar o impossível da relação originária entre sujeito e significante, permitindo um deslizamento do significante que caracterizaria a posição discursiva do sujeito desejante. Lacan compartilha entre outros, com o princípio Zen-budista de que o desejo é ilusão, reflete sobre o Nirvana e sobre o trato do mestre zen com seu discípulo, sempre perplexo com a forma direta com a qual o Zen apontava para a isenção de sentido. Na experiência analítica e na dificuldade de sua transmissão, o sujeito aparece como aquele que nada quer saber de seu desejo que, articulado pela linguagem como um enigma que não pode ser nomeado pelo sujeito, um semsentido, quando Lacan se dá conta do gozo e concomitantemente, de que o simbólico com o nome-do-pai, não tem respostas para tudo, tampouco para o real do gozo. A segunda clínica, do real, surge com a descoberta lacaniana de que o sujeito ao falar, goza do seu inconsciente que, não é todo simbólico, então dirigindo-se para o falasser. O que o Zen já apontava com a insenção de sentido dos gestos bruscos do mestre zen no trato com seus discípulos, Lacan irá corporificar na visada do vazio da castração, de um limite do sentido que para o inconsciente é sexual, atestando a imprevisibilidade e o espírito zen a partir do ato analítico. Em direção ao real do gozo, no seu ciframento, o inconsciente não é mais que uma invenção singular, um saber-fazer-aí com esse sem-sentido não simbolizável. |
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