Resumo:
No Brasil, a profissão farmacêutica tem apresentado mudanças em seu perfil ao longo dos últimos anos, em especial quanto à prática clínica do farmacêutico, cujo paciente passa a ser o foco do atendimento. De forma semelhante, as demandas da população trans (transgênero, transexual, travesti e não-binário) têm se tornado maiores, à medida que os seus direitos são garantidos pela Lei. Objetivou-se retratar o perfil do cuidado farmacêutico, correspondente à prática clínica dos serviços farmacêuticos, realizado em farmácias comunitárias da cidade de Campina Grande – PB. Em adição, buscou-se identificar as principais formas de tratamento hormonal, bem como o conhecimento dos profissionais acerca da diversidade de gênero, conhecer o nível de atendimento realizado nas farmácias e adesão dos pacientes aos serviços ofertados. Trata-se de um estudo transversal de cunho quali-quantitativo realizado por meio de questionário virtual aplicado entre 25 de novembro e 09 de dezembro de 2021. A população foi de 12 pessoas que tinham idade igual ou superior a 18 anos, utilizam hormônios e possuem vínculo com a cidade de Campina Grande – PB. Os dados foram analisados a partir da própria plataforma do questionário por meio de estatística simplificada. Os resultados mostram uma população jovem (até 31 anos), bem instruída (66,7% com acesso ao ensino superior – completo e incompleto) e com acesso à moradia (58,3% vivem com a família) e ao mercado de trabalho (41,6% empregado com carteira assinada). Os brancos foram maioria, seguidos de pardos e pretos, respectivamente. Os homens trans foram maioria (50%) em relação às mulheres trans (33,3%). O nome social está sendo respeitado, completa ou parcialmente, sendo que 91,7% sabiam do direito de usá-lo em espaços de saúde. A maioria iniciou o tratamento hormonal após os 22 anos (58,4%) com o intuito de adquirir características do gênero oposto ao do sexo biológico. Os hormônios relatados foram a testosterona em 100% dos casos de homens trans e o estrogênio + progesterona (60%) e estrogênio isolado (40%) para as mulheres trans. A via injetável foi a mais utilizada (58,3%). Em relação às consultas e atendimentos farmacêuticos, nenhum dos participantes realizou consulta com um farmacêutico. O único serviço realizado foi a administração do medicamento. Não houve retorno à farmácia após sentir efeitos indesejados pelos usuários, dentre os motivos estão a falta de conhecimento sobre a ajuda que pode ser oferecida pelo farmacêutico. Sobre os motivos para não realização da consulta, estão dificuldades financeiras e a falta de preparo do profissional. Esses resultados mostram a dificuldade de acesso de pessoas trans a serviços preparados para atendê-las, faltando informações acerca da terapia hormonal e seu risco-benefício. O farmacêutico pode atuar no acompanhamento do tratamento, prevenindo e identificando interações medicamentosas, instruindo a utilização correta dos medicamentos, avaliando seus efeitos e reduzindo as chances de ocorrerem respostas negativas aos medicamentos. Cabe, aqui, uma formação mais completa do profissional que pode ser dada através da interprofissionalidade e de disciplinas que abordem a diversidade de sexualidade e gênero. Faz-se necessária a mudança da centralidade do médico para que outros profissionais possam atuar.
Descrição:
OLIVEIRA JÚNIOR, José Agnaldo Morais de. Terapia hormonal e o cuidado farmacêutico: Uma trans(formação) necessária. 2022. 28f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2023.