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O Movimento Escola sem Partido (EsP) foi criado em 2004, pelo então Procurador do estado
de São Paulo, Miguel Nagib, com o objetivo de tipificar e repreender uma suposta
doutrinação ideológica no ambiente escolar. Entretanto, só passou a ter notoriedade pública
e política em 2014, com o surgimento de projetos de lei nos âmbitos federal, estadual e
municipal. O objetivo desta pesquisa foi de analisar os argumentos empregados em defesa
do projeto de Lei nº 7180/14 – ou Escola sem Partido (EsP) – em relatos de deputados que
integraram a Comissão Especial destinada a proferir parecer para esse projeto. Para isso,
investigou-se como os parlamentares contestam a educação sexual nas escolas; quais os
discursos (religioso, jurídico, científico) empregados para garantir credibilidade à proposta;
e como posicionam os opositores do projeto EsP. Trata-se de uma investigação qualitativa,
em que se recorreu à pesquisa documental. Analisaram-se três vídeos, intitulados Discussão
e votação do parecer do relatório da Comissão Especial destinada a proferir parecer ao
Projeto de Lei nº 7180, de 2014, do Sr. Erivelton Santana, que “altera o art. 3º da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996”, e apensados, produzidos em datas diferentes –
04/12/2018, 05/12/2018 e 12/12/2018 – e que compõem o processo final dos trabalhos da
referida Comissão. Esses relatos foram submetidos à análise de discurso, de acordo com a
proposta da Psicologia Social Discursiva. Nas descrições, os deputados recorreram a uma
série de recursos retóricos, visando tornar suas falas mais fidedignas. Os relatos em defesa
do projeto EsP são fundamentados na ideia de que existe uma “doutrinação esquerdista”,
marxista, comunista e socialista no ambiente escolar. Portanto, os parlamentares favoráveis
ao projeto defendem que o ensino deve se pautar na neutralidade educacional e em um
modelo de educação conteudista. A contestação da educação sexual nas escolas é baseada
na crença de que há uma “ideologia de gênero” que desvirtua as crianças de seus sexos
naturais e as induz a se tornarem homossexuais. O discurso religioso aparece atrelado à ideia
de proteger a família tradicional cristã; o discurso jurídico é empregado para atestar que o
projeto é respaldado na Convenção Americana de Direitos Humanos; e o discurso científico
está presente para opor os valores científicos aos religiosos, na medida em que afirmam que
a ciência, que é guiada pela objetividade e nega o lado emocional dos seres humanos, orienta
o discurso dos que se opõem ao projeto, diferentemente da religião que, guiada pelos
preceitos humanos, orienta a postura dos que são favoráveis ao projeto. As descrições
posicionam os opositores do projeto como uma “minoria ruidosa”, ateia, de esquerda e
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mentirosa, em contraste com uma “maioria silenciosa”, cristã e conhecedora das
necessidades educacionais dos alunos. Palavras como ‘inferno’, ‘vociferam’, ‘ateus’ e
“maldita” são empregadas no discurso para desqualificar os opositores. Conclui-se que o
movimento EsP, por meio de uma narrativa anticomunista, antigênero e de sua articulação
com a bancada conservadora do Congresso, fomenta discursos contrários à liberdade de
expressão no ambiente escolar, amplamente assegurada pela Constituição Federal (CF). |
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