Acidente por Bothrops erythromelas: Análise dos dados epidemiológicos e clínicos

Abstract

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009, incluiu o ofidismo na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), em especial, nos países tropicais. As serpentes do gênero Bothrops são as maiores responsáveis pelos acidentes dentre os gêneros considerados peçonhentos de importância médica. A utilização de antivenenos específicos se configura como o principal tratamento dos acidentes ofídicos. Entre janeiro de 2018 e dezembro de 2019, realizou-se um estudo descritivo, analítico (transversal) e comparativo dos casos de acidentes por B. erythromelas entre dois grupos de tratamento, a partir dos dados epidemiológicos e clínicos. As variáveis secundárias foram extraídas das fichas de Notificação Individual dos Acidentes por Animais Peçonhentos, do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Na pesquisa, foram incluídos todos os casos, confirmados e prováveis, de acidentes causados pela Bothrops erythromelas, atendidos e notificados pelo CIATox-CG, classificados como leves e moderados. As variáveis analisadas foram: as relacionadas ao indivíduo, ao acidente, ao tratamento, evolução do caso e parâmetros laboratoriais. Para análise de dados, utilizaram-se a estatística descritiva, as frequências simples absolutas, os percentuais para as variáveis categóricas e a organização dos resultados em tabelas. Para verificar possíveis associações entre as variáveis em estudo, foram utilizados o teste Qui-quadrado e o teste Exato de Fisher. Dos 270 casos analisados, observou-se o seguinte perfil epidemiológico: agricultores do gênero masculino, em faixa etária economicamente ativa, com ensino fundamental incompleto, acometidos em sua maioria nos membros inferiores e na zona rural por circunstância acidental. Prevaleceram dor e edema como manifestações clínicas locais, e cefaleia e hemorrágicas como manifestações sistêmicas. Observou-se que na avaliação dos parâmetros da coagulação os exames admissionais solicitados com maior frequência foram o coagulograma tipo 1 (Tempo de Coagulação [TC] e Tempo de Sangramento [TS]), plaquetas e função renal. O tratamento específico prevaleceu a indicação da Nota Informativa n° 25/2016, do Ministério da Saúde, em detrimento das orientações do Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, também do Ministério da Saúde do ano 2001, com boa repercussão nas evoluções dos casos. Não foram constatadas diferenças estatísticas significantes no “total de ampolas administradas” e “dias de internação”. Constatou-se que ainda há dificuldade na obtenção dos dados em decorrência das falhas e incompletudes do preenchimento das fichas do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). Além disso, não há uniformização na solicitação dos exames admissionais. Faz-se necessário, portanto, formar profissionais com conhecimentos em sistema de informação, objetivando a padronização e a melhoria na qualidade dos dados e, consequentemente, da informação aos gestores públicos.