Caracterização fenotípica de beta-lactamases produzidas por bactérias em uroculturas de origem comunitária

Abstract

Bactérias causadoras de infecções urinárias podem produzir enzimas de resistência que degradam antibióticos beta-lactâmicos, resultando em falhas no tratamento clínico, limitando as opções terapêuticas e consequentemente, aumentando as taxas de morbi-mortalidade dos pacientes. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a frequência dos fenótipos que caracterizam as enzimas de resistência bacteriana como β-lactamases de espectro estendido (ESBL), AmpC( enzima do grupo C de Ambler), penicilinases e carbapenemases em amostras de urocultura de um laboratório comunitário na cidade de Campina Grande/PB. Durante os anos de 2020 a 2021 foram analisadas 10.487 uroculturas nas quais, Escherichia coli predominou com a bactéria que mais produziu ESBLs em 66,04% (n=107), seguido de Klebsiella oxytoca, 18,24% (n=29), Proteus mirabilis, 6,29% (n=10), Klebsiella pneumoniae, 2,51% (n=4) e Enterobacter aerogenes, 1,26% (n=3). Dentre as E. coli encontradas, 1,26% (n=2) também foram produtoras da enzima carbapenemase. Neste estudo não foram encontradas bactérias produtoras de AmpC como também não foram encontrados Staphylococcus aureus resistentes à oxacilina (MRSA). Destacou-se, porém, a presença de Staphylococcus saprophyticus resistentes à oxacilina que apareceu em 3,77% (n=4) das uroculturas. Observou-se a maior incidência do gênero feminino com uroculturas positivas para produção de betalactamases, 65,4% (n=104). Em relação aos grupos etários, a presença de cepas produtoras de betalactamases ocorreu em todos eles, porém predominando na faixa etária entre 71 a 90 anos. Foi também verificado o perfil de resistência de antibióticos que não são passíveis de serem degradados por ESBL em relação às bactérias mais isoladas neste trabalho como Escherichia coli, Klebsiella, oxytoca, Klebsiella pneumoniae , Proteus mirabilis, Enterobacter aerogenes. Para Escherichia coli, por exemplo, foi constatado que 80,37% (n=86) foram resistentes ao sulfametoxazol+trimetropina, 77,57% (n=83) ao ciprofloxacino, 76,74% (n=82) ao norfloxacino, ofloxacino e levofloxacino, 54,20% (n=56) à cefuroxima, 25,24% (n=27) à nitrofurantoína, 15,89% (n=17) à gentamicina, 12,15% (n=13) à amoxicilina+clavulanato, 9,35% (n=10) foram resistentes à amicacina e gentamicina e 2,7% (n=2) resistentes ao imipinem e ao meropenem. Constatou-se que, dos antibióticos orais que são mais adequados para uso comunitário, amoxicilina+clavulanato e nitrofurantoína apresentaram-se como as melhores opções terapêuticas. Porém, considerando-se as características farmacocinéticas destas drogas, a nitrofurantoína seria a alternativa mais adequada, pois, por apresentar excreção lenta, se concentra mais tempo na bexiga, promovendo uma maior eficácia. A correlação da rápida excreção das penicilinas associada à meia-vida plasmática relativamente curta caracteriza-se como uma desvantagem no uso de amoxilina+clavulanato para o tratamento de infecções urinárias, apesar do seu perfil de resistencia favorável. Conclui-se que bactérias produtoras de enzimas de resistência estão atualmente disseminadas não apenas em ambientes hospitalares, mas também na comunidade. Tal fato alerta para a importância de se institucionalizar o procedimento de pesquisa de enzimas de resistência na rotina laboratorial, considerando que sua presença pode modificar a opção terapêutica para o tratamento do paciente, garantindo sucesso terapêutico.