Resumo:
Felizes para sempre e amor verdadeiro são algumas das primeiras ideias apresentadas, quando falamos em contos de fadas. Na Literatura Infantojuvenil, as personagens principais de contos populares, como Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida, são conhecidas pela beleza e relacionadas por terem em comum uma rainha, uma madrasta ou uma bruxa que tentam impedi-las de conseguir um final feliz. Nesse contexto, a beleza feminina só é vista de uma forma positiva quando encaixada em uma visão patriarcal, pois, nas narrativas tradicionais, ser bela e submissa a um personagem masculino são características que proporcionam felicidades no futuro. Posto isso, a partir do final do século XIX e começo do século XX, com o caminho aberto pelos contos supracitados, os clássicos passaram por uma série de adaptações literárias e cinematográficas, mantendo sua essência mística de personagens ao apresentar fadas, princesas e bruxas, mas ganhando, ao longo dos anos, uma nova roupagem, trocando, por exemplo, príncipes por caçadores, madrastas más por rainhas bondosas, entre outros. Dessa forma, a presente pesquisa tem como principal objetivo, utilizando o conto Branca de Neve (1812) e o filme Branca de Neve e o Caçador (2012), analisar o papel que o sublime desempenha na construção do enredo das personagens Madrasta/Rainha má e da Branca de Neve. Já os objetivos específicos são: abordar as disparidades nas narrativas das personagens consideradas antagonistas e protagonistas; apontar a atuação do sublime nos contos de fadas e expor a motivação dos diferentes destinos dados a essas personagens femininas nos contos tradicionais e nas releituras cinematográficas. Desse modo, para alicerce da discussão, utilizamos estudos de Bettelheim (2014), Cademartori (2006), Coelho (1985, 2012), Merege (2010) e Warner (1999), no que se refere à trajetória dos contos de fadas; Hutcheon (2013), para a discussão das adaptações cinematográficas. Já para as discussões sobre o sublime e o belo, recorremos a Burke (1993), Guerra (2018), Hugo (2014), Jimenez (1999), Longino (1996) e Kant (1995); no processo de adaptação da personagem clássica na literatura e no cinema, Carter (1992) e Oliveira (2021). Por fim, sobre o papel do sublime e da beleza nas narrativas das personagens, Corso e Corso (2005), Eco (2004), Neikirk (2009), entre outros autores. Desse modo, levando em consideração a definição do sublime como algo da mais alta excelência, percebemos que sua representação nos contos de fadas e nas releituras vai além da aparência jovial, etérea e quase infantil das personagens. A partir das obras analisadas, enxergamos como o comportamento também é um fator de relevância e como, em razão disso, um discurso predominante masculino afeta de diferentes formas os enredos das personagens femininas. Por esse motivo, Branca de Neve, na literatura e no cinema, consegue um final digno de uma princesa genuinamente boa, enquanto a Rainha/Ravenna, por não seguir as regras adequadas para uma mulher nessas histórias, termina a narrativa completamente sozinha.