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O presente artigo objetiva refletir sobre a representação e construção do feminino no sistema patriarcal oitocentista na obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis, dando com foco na personagem Úrsula. Ela demonstra-se como o plano de fundo para vozes marginalizadas e subalternas e se distancia de outras heroínas românticas que seguem um perfil estagnado e sem dinamismo, ao abrir lugar de fala para personagens secundárias na narrativa, a exemplo do trio de negro, Túlio, Antero e a Preta Susana. Essas personagens foram emudecidas e marginalizadas, mas quando estas vozes subalternas tem suas vidas violadas, a personagem também cai no silêncio do discurso hegemônico e dominante, sofrendo violência física, psicológica e simbólica. Diante dessa contextualização, objetivamos ao longo desta pesquisa discutir a condição subalterna da mulher branca e negra, as questões voltadas para violência simbólica, psicológica e física, como a personagem foi construída no enredo narrativo e sua representação. A personagem por estar em um cenário patriarcal sofre a imposição naturalizada e da normatividade do discurso da tradição que a põe à mercê do predeterminismo masculinista, a serem submissas, destinadas ao casamento e mantê-lo a todo custo. O amor romântico das personagens protagonistas é uma ruptura ao desconstruir conceitos preconcebidos e perpassados pelo discurso machista. Assim, tendo em vista, os aspectos metodológicos, nossa investigação possui caráter qualitativo, de base bibliográfica, ao dialogar com o conceito de subalternidade de Spivak (2010) que possibilita o dessilenciamento e a ruptura com estereótipos que persistem em subalternizar tanto personagens femininas, como escritos de autoria feminina. Também, refletiremos, a partir de Cândido (2002), a despeito da literatura romântica no Brasil, além de, considerando os postulados de Nascimento (2009) e Da Silva (2009), Zin (2018), Carrupt (2019), entre outros, discutir nos trechos do romance focalizado a impossibilidade de ascender, de se impor e da desconstrução do feminino subalternizado e marginalizado. Como resultados, percebemos que ao longo da narrativa se desenvolve a representatividade feminina como forma de resistência, ao imprimir voz às personagens secundárias subalternas e marginalizadas em um contexto que limitava o discurso feminino a mercê da imposição de um discurso centrado no tradicionalismo patriarcal naturalizado. Esta condição pesou na construção de uma sociedade que valoriza as mulheres e suas atribuições, que perduram até os dias atuais. |
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