Resumo:
No Brasil os acidentes ofídicos são considerados um problema de saúde pública devido à alta taxa de incidência e da letalidade, sobretudo em regiões mais pobres e rurais do país. Existem dezenas de espécies de serpentes peçonhentas de importância médica registradas no Brasil, incluindo Bothrops erythromelas, que provoca sérios riscos à saúde, desde lesões fisiológicas na vítima podendo até causar o óbito. É sabido que a pandemia do COVID-19 provocou alterações no cotidiano e nas atividades da população, e em meio a esse cenário as pessoas passaram a evitar ambientes hospitalares por precaução de acometimento ao vírus, o que pode ter contribuído para a subnotificação de casos de ofidismo. Diante disso, o presente estudo buscou avaliar os acidentes botrópicos, notificados no CIATox-CG, no período entre os anos de 2018 a 2022. Foi realizado um estudo transversal de caráter quantitativo, retrospectivo e documental. Os dados epidemiológicos dos casos de acidentes ofídicos ocasionados por Bothrops erythromelas foram coletados no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, obtidos a partir da Ficha de Notificação Individual dos Acidentes por Animais Peçonhentos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), para o município de Campina Grande/PB. Foram incluídas as variáveis quanto ao: sexo, faixa etária, ocupação, escolaridade, zona de ocorrência, tempo decorrido entre o acidente e admissão hospitalar, região anatômica acometida, manifestações clínicas locais e sistêmicas, classificação da gravidade, tratamento, evolução, soroterapia administrada (total de ampolas), Tempo de Coagulação (TC), Tempo de Sangramento (TS), Plaquetas, e evolução clínica. Para análise dos dados utilizou-se estatística descritiva, com apresentação de frequências simples, absolutas e percentuais para as variáveis categóricas. Foi aplicado o teste de Qui-quadrado e o teste Exato de Fisher nos casos, onde as frequências esperadas foram menores que 5 (p<0,05). Foram registrados 1.060 casos de acidentes ofídicos e destes, 669 (63,11%) foram classificados como acidentes por Bothrops erythomelas. Em relação ao sexo, os homens são os indivíduos mais vulneráveis aos acidentes botrópicos (n=504; 75,33%), e quanto aos anos avaliados, 2020 que compreendeu o início do período da pandemia de COVID-19, apresentou um maior número de vítimas masculinas (n=147; 71,35%). Quanto a faixa etária, a maior parcela compreendeu entre 20 e 49 anos (n=304; 45,44%), e a maior parcela de casos (n=397; 59,34%) foi notificada como nível ignorado quanto a escolaridade das vítimas, e em 2020, houve um aumento dessa notificação (n=160; 77,67%). A zona rural destacou-se com os maiores números de casos (n=559; 83,55%), e quando avaliados os anos, percebe- se novamente a evidência para o ano de 2020 (n=171; 83,0%), enquanto o ano de 2019 apresentou a menor incidência (n=85; 84,15%). Para a variável “ocupação” observou-se associação estatística significativa (p < 0,05%). A maioria dos casos quanto a classificação inicial foi identificada como moderados (n=326; 48,72%), e o intervalo de tempo decorrido para o atendimento que apresentou maior relevância foi o período de uma a três horas (n=338; 50,5%). Para a variável “região anatômica” observou-se associação estatística significativa (p < 0,05%), com destaque para o pé (n=108; 52%). Como eventos mais frequentes, foi observado em 2020 a dor (n=133; 43%), seguido por edema (n=120; 39%). Quanto as manifestações sistêmicas, verificou-se associação estatística significativa (p < 0,05%), onde a maioria dos pacientes (n=264; 39%) necessitaram da administração de quatro a sete ampolas de Soro Antibotrópico (SAB) para reestabelecimento da hemostasia. Para a variável “soroterapia” observou-se associação estatística significativa (p < 0,05%). Portanto, constatou-se que no ano inicial da pandemia (2020), as ocorrências apresentaram um registro expressivo para o município, chegando a alcançar quase o dobro de casos quando comparados aos anos anteriores. Desse modo, pode-se afirmar que a pandemia da COVID-19 causou impactos no número de acidentes ofídicos registrados no município de Campina Grande/PB.