Influência da pandemia da Covid-19 no perfil epidemiológico dos traumas bucomaxilofaciais em idosos

Abstract

O trauma é um dos maiores problemas para os serviços de saúde pública em diferentes regiões do mundo. Com o aumento da longevidade e, consequentemente, com o crescimento da população geriátrica, observou-se que esse grupo está mais vulnerável aos traumas faciais, que tendem a ser mais complexos em virtude das singularidades de saúde e das doenças associadas. O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da pandemia da COVID-19 no perfil epidemiológico dos traumas bucomaxilofaciais em idosos atendidos no Hospital Regional de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, unidade hospitalar de referência na Paraíba e nas regiões circunvizinhas. Para tanto, foi realizado um estudo transversal retrospectivo, analítico, epidemiológico e observacional com procedimento estatístico comparativo e técnica de pesquisa por documentação direta em campo. Os dados foram coletados e analisados de maneira descritiva no software estatístico SPPS (Statistical Package for the Social Sciences). Foram analisados prontuários dos pacientes idosos atendidos no referido hospital durante o período de março a dezembro de 2019 (pré-pandemia) e março a dezembro de 2020 (pandemia). A população geriátrica foi dividida em cinco grupos de faixa etária, tendo como grupo inicial idosos com idade entre 60 anos e 69 anos, outro grupo entre 70 e 79, entre 80 e 89 anos, entre 90 e 99 anos e o último grupo, acima de 100 anos. Foram avaliados 11.737 prontuários, dos quais 396 eram idosos vítimas de traumas gerais. De acordo com os critérios de elegibilidade, foram incluídos 209 prontuários de idosos com trauma bucomaxilofacial, dos quais 87 prontuários (41,6%) correspondiam ao ano de 2019 e 122 (58,4%) a 2020, caracterizando um aumento de 40,22% durante a pandemia. A maioria das vítimas era do sexo masculino (73,2%), entre 60 e 69 anos (54,5%), casado (34,4%) e aposentado (48,8%). Em 2019, prevaleceu os traumas em via pública (47,1%) com admissão à noite e em 2020, em ambiente domiciliar (63,9%) com admissão à tarde. 143 idosos apresentavam algum tipo de comorbidade (68,4%), sendo a hipertensão arterial (32%) mais frequente, seguido de diabetes mellitus (10%). Na pré-pandemia, o fator etiológico predominante foi os acidentes de trânsito (43,7%), com fraturas mais frequentes no Zigomático (27,9%), OPN (15,2%) e Maxila (15,2%). Na pandemia, prevaleceram os acidentes domésticos como: queda da própria altura (45,1%), com fraturas no Zigomático (29,4%), OPN (21,2%), e Mandíbula (14,1%). A quantidade de fraturas foi reduzida de 63,2% em 2019 para 47,6% em 2020, porém 53,1% necessitaram de intervenção cirúrgica. 79,9% dos traumas bucomaxilofaciais tiveram associação com lesões em outras partes do corpo. O período de internação com mais de 72h foi predominante (78,5%) e 38,3% dos pacientes foram internados em UTI. A ocorrência de alta foi maior que a de óbito (17,2%). Concluiu-se que durante a pandemia houve elevação do número de traumas bucomaxilofacias em idosos, redução dos traumas de natureza de maior energia cinética – acidentes de trânsito – e aumento dos casos provenientes de baixa sinergia, como as quedas da própria altura. No período pré-pandemia, prevaleceram os traumas em via pública, enquanto na pandemia, em ambiente domiciliar.