O canto dos malditos: memória e experiências discursivas no contexto da ditadura civil-militar

Abstract

Este estudo aborda as memórias e experiências de sofrimento vivenciadas por Austregésilo Carrano Bueno nas instituições manicomiais no Brasil durante a Ditadura Civil-Militar ao longo da década de 1970, através de sua obra literária Canto dos malditos, publicada em 2004. Trabalhar com as memórias do autor é buscar aproximar a população das denúncias de barbáries que aconteceram durante a este período, dentro dos manicômios. Buscamos entender como os internamentos foram modos de interdição do sujeito, mostrando sua falta de eficácia no que se refere à reabilitação devido à falta de humanização do tratamento. Busca-se, portanto, implementar o debate dentro das salas de aula tanto para elucidar a conjuntura da Ditadura no Brasil, como também para promover debates acerca da alteridade, caminhando assim para a formação de um aluno criticamente ativo. Para tanto, como objetivo geral buscamos compreender a obra Canto dos malditos, observando as representações discursivas entre o contexto da Ditadura Civil e Militar no país e as experiências de memória de Austregésilo. Como proposta visamos trazer tal discussão, levando em consideração a emergência das disputas de memórias atuais acerca da atuação governamental durante da Ditadura, como também problematizar cultural e educacionalmente, a questão do ”outro”. Nesta produção considerou-se também o olhar sensível para com produções literárias, que hão de ser de extrema valia para uma leitura de sociedade. Para melhor compreensão do assunto trabalhamos a partir dos estudos de Pollak (1989), Michel Foucault (1983), Maurice Halbwachs (1990) and Sandra Pesavento (2006). Para aprofundamento analítico das experiências do autor da obra em foco buscamos refletir a partir das contribuições de Jorge Larrosa (2002). O trabalho em torno do tema proposto foi feito através de uma pesquisa qualitativa, baseada na análise documental e da pesquisa bibliográfica com autores que dedicaram seus trabalhos a temas como memória, discurso e sociedade. Partindo destas ideias construímos uma sequência lógico-didática sobre as experiências de memórias em manicômios, e, posteriormente, especificamos o período em recorte: a Ditadura Civil-Militar no Brasil na década de 1970, e desaguamos nas experiências individuais de Austrégesilo, evidenciando as violências sofridas por ele dentro e fora destas instituições. Esta discussão busca contribuir no debate acerca da atuação da Ditadura, almejando chegar dentro e fora da sala de aula, pois se apresenta fundamental para a continuidade do convívio criticamente saudável em nossa sociedade, a busca pelo respeito e pelo entendimento da pluralidade de expressões e de formas de existir no mundo e, para que esse ponto seja alcançado, se faz necessário trabalhos neste sentido, para que as discussões sejam promovidas e, paulatinamente, concepções sejam alteradas.