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Esta pesquisa analisa os discursos xenofóbicos dirigidos aos nordestinos no Twitter após o segundo turno da eleição presidencial de outubro de 2022 no Brasil. O objetivo deste trabalho foi identificar os elementos discursivos e as dinâmicas sociais que contribuíram para a formação dos discursos xenofóbicos direcionados aos nordestinos, durante o período eleitoral presidencial de outubro de 2022. Para tanto, foram analisadas as condições que favoreceram a disseminação desses discursos, com base na análise de publicações xenofóbicas feitas na rede social Twitter, no referido período pós-eleitoral, as quais foram selecionadas a partir de palavras-chave, utilizando a ferramenta de busca da própria rede. Para alcançar os objetivos propostos, mobilizamos conceitos fundamentais da Análise do Discurso de Linha Francesa (AD), tais como: língua, discurso, condições de produção e circulação, ideologia, interdiscurso e sujeito, a partir de teóricos como Pêcheux (1997), Foucault (2004), Orlandi (2015) e outros estudiosos da área. A partir dos trabalhos de Vasconcelos (2022), Ribeiro (2022), Ojima e Fusco (2014), também contextualizamos historicamente a migração dos nordestinos para outras regiões do Brasil, o que ajudou a compreender a construção de estereótipos e preconceitos dirigidos a essa população ao longo do tempo. Os enunciados coletados (50, no total) foram divididos em quatro categorias, de acordo com o teor predominante nessas publicações, quanto ao modo de abordar a figura do nordestino. Assim, a partir dos dados coletados, chegamos a quatro categorias de análise: a) inferiorização do nordeste/dos nordestinos; b) associação entre o nordestino e políticas assistencialistas; c) exclusão e separatismo do nordeste; e d) sofrimento e morte aos nordestinos. A partir da análise do corpus, pudemos verificar que o discurso xenofóbico, dirigido ao nordestino durante esse período recente de eleição presidencial no Brasil, não é um discurso novo, mas encontra eco em outros discursos já construídos historicamente, em diferentes momentos e motivados por disputas sociais, econômicas e culturais. Tais disputas motivam os sujeitos, pertencentes a outras regiões do país ou falando a partir desse lugar discursivo, a construírem enunciados que revelam efeitos de sentido sobre os nordestinos, representados como um grupo em situação de inferioridade (por razões diversas) e que por isso precisa receber a proteção governamental através de políticas assistencialistas. Essa população também é representada nesses enunciados como indigna de pertencer ao território brasileiro e de possuir tal cidadania, pelo fato de “não saber escolher” seus representantes, o que significa, na verdade, fazer escolhas diferentes daquelas defendidas pela maioria dos eleitores de outras regiões. Como consequência disso, mereceria receber toda sorte de punições, inclusive a morte. Há, assim, no exercício de linguagem através das interações na rede social, explicitada a lógica da engrenagem que sustentou e movimentou o discurso xenofóbico contra os nordestinos no período pós-eleitoral de 2022. |
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