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O presente trabalho busca investigar até que ponto ou em que medida as relações entre homens na Grécia Antiga atuavam no processo de subjetivação do indivíduo. Parte-se de dois princípios: (1) que o dispositivo da sexualidade, tal qual Michel Foucault o concebe, operando preponderantemente pela ótica dualista das identidades de heterossexual e homossexual, não é suficiente para analisar as relações entre homens na Antiguidade, dada a historicidade de sua criação que remonta ao século XIX; e (2) apesar de não percebermos na Antiguidade uma relação entre identidade do sujeito e atos sexuais praticados, houveram tentativas de regular o comportamento sexual dos indivíduos antigos. Nesse intuito, a fonte analisada é a obra Banquete, produzida pelo ateniense Xenofonte por volta de 384 a.C. e a metodologia empregada é a análise do discurso, nos moldes propostos pelo filósofo francês Michel Foucault. Conclui-se neste trabalho que o estudo do desvio sexual na Antiguidade grega perpassa pelo conceito de gênero, importando menos o gênero dos parceiros sexuais do que o controle de si na condução dos prazeres. Por mais difuso que possa parecer ser, o Banquete de Xenofonte tem o objetivo direto de mostrar como o princípio da kalokagathia - união dos ideais da beleza e bondade - pode ser expresso das mais diferentes formas, inclusive na pederastia. O personagem Sócrates busca fazer uma crítica à forma como essas relações estavam sendo praticadas na Atenas Clássica, com amantes vulgares que esqueciam dos princípios virtuosos do amor às almas para ceder às vontades do amor aos corpos, evidenciando, portanto, o objetivo de Xenofonte em estabelecer um modelo ideal de pederasta. Por fim, mostra-se que as três principais relações pederásticas contidas na obra apresentam, cada uma à sua maneira, os processos de subjetivação na Antiguidade por meio da condução de si na atividade sexual. |
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