Resumo:
Os acidentes provocados por animais peçonhentos são considerados um problema de saúde pública não só a nível nacional, mas mundial. De modo particular, os acidentes por abelhas vêm ganhando grande destaque no âmbito da saúde pública brasileira, em virtude da elevada frequência e gravidade dos casos. Existem diversas espécies de abelhas de importância médica encontradas no território brasileiro, como Apis mellifera, capaz de promover diversos tipos de manifestações clínicas na vítima após a picada, desde reações locais a sistêmicas que podem evoluir para óbito. Apesar de ser um problema extremamente relevante, os acidentes apílicos embora recorrentes, permanecem sendo subnotificados e negligenciados. Diante disso, o presente estudo visou avaliar os acidentes apílicos, notificados pelo CIATox-CG, no ano de 2023. Foi realizado um estudo transversal, de caráter quantitativo, retrospectivo e documental. Os dados epidemiológicos dos casos de acidentes por abelhas, foram coletados no ano de 2023, obtidos a partir da Ficha de Notificação Individual dos Acidentes por Animais Peçonhentos do Sistema de Notificação de Agravos de Notificação (SINAN). Foram incluídas as variáveis quanto ao: sexo, raça, faixa etária, ocupação, escolaridade, zona de ocorrência, circunstância do agravo, tempo decorrido entre o acidente e admissão hospitalar, número de picadas, manifestações clínicas locais e sistêmicas, classificação da gravidade, e evolução. Para análise dos dados utilizou-se estatística descritiva, com apresentação de frequências simples, absolutas e percentuais para as variáveis categóricas. Foi aplicado o teste Qui-quadrado e o teste Exato de Fischer nos casos, onde as frequências esperadas foram menores que 5 considerando o nível de significância de 5% (p < 0,05). Foram registrados 4206 casos, tendo sido 2590 relacionados a acidentes por animais peçonhentos/venenosos isolados e 1 em associação. Deste número, 201 casos foram causados por picadas de abelhas, porém 1 caso apresentou-se associado com marimbondos. Em relação ao sexo, os homens são mais propensos aos acidentes por abelhas (n=143; 71,5%). Em relação a raça, a maior parcela compreendeu pardos (n=98; 49,0%). Para a variável escolaridade, observou-se que a maioria das vítimas possuíam ensino fundamental incompleto (n=44; 22,0%). A zona de ocorrência que mais se destacou foi a urbana (n=151; 75,5%). Para a variável “circunstância” observou-se que a maioria dos casos ocorreram de forma acidental (n=185; 92,5%). Quanto à classificação inicial de gravidade, a maioria dos casos foi considerada como leves (n=171; 85,5%), e o intervalo de tempo decorrido para o atendimento mais significativo foi de até uma hora (n=98; 49,0%). A maioria dos casos quanto a classificação final foi identificada como leve (n=167; 83,5%). Quanto ao desfecho, a maior parcela evoluiu para cura (n=187; 93,5%). Quanto à faixa etária, as vítimas possuíam idade entre 1 a 86 anos, sendo a média das idades de 32 anos (DP= 19,3). A maioria dos casos ocorreram em janeiro (n=26; 13,0%) e agosto (n=22; 11,0%). No corte realizado no estudo, em 26 casos classificados como moderados e graves, a maioria dos pacientes foram picados na zona rural (n=16; 61,5%). Quanto ao número de picadas, a maioria recebeu múltiplas (n=20; 76,9%). Como eventos mais frequentes, foram observadas manifestações dermatológicas (n=17; 65,4%) e neuro/psíquicas/musculares (n=8; 30,8%). A maioria dos casos apresentou classificação final moderada (n=15; 57,7%) e teve desfecho de cura (n=24; 92,3%). Nesse contexto, conclui-se que os acidentes apílicos precisam ser mais notificados, classificados e auxiliados, em virtude da frequência deles e dos riscos que oferecem à saúde do indivíduo. Medidas de prevenção e conscientização devem ser adotadas, com o intuito de reduzir os acidentes.